O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou furioso com o discurso da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, feito sábado na reunião do PT, relataram assessores. Marta debitou parcela da conta de sua derrota para José Serra (PSDB) à política econômica do governo que, na sua opinião, promoveu "a deterioração do poder aquisitivo" dos setores populares e médios.
"É fácil transferir a responsabilidade a outro", protesta o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), inconformado com as palavras da prefeita contra o presidente e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
"O presidente havia proibido Palocci de entrar na campanha em qualquer lugar, mas o liberou em São Paulo", lembra o líder. Para ele, é duro ouvir este tipo de crítica depois de tudo o que o governo federal fez pela prefeita. Luizinho afirma ainda que, além de transferir recursos federais para a capital paulista, o governo pôs o peso de seus ministros na campanha de Marta, como em nenhuma outra capital. "O motivo da derrota está em outro lugar, e não na política econômica", insiste o líder.
Daí, a grande irritação de Lula ao tomar conhecimento do conteúdo do discurso de Marta. Ele recebeu uma cópia na Granja do Torto, sua residência oficial. Leu-a e não gostou.
Luizinho está convencido de que foi justamente em São Paulo que mais se usou a força do governo Lula e da recuperação da economia e do poder aquisitivo como munição de campanha contra os adversários. "Várias categorias de trabalhadores fizeram acordos com os patrões e ganharam reajustes acima da inflação este ano", destacou o líder governista.
A seu ver, a virada positiva da economia era justamente o tema em torno do qual a prefeita poderia ter nacionalizado os debates a seu favor, e não o fez. Por equívoco, diz, preferiu federalizar a campanha na discussão da saúde, onde Serra levava vantagem pelo bom desempenho que teve como ministro da área no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Em seu discurso feito no encontro do Diretório Nacional petista neste fim de semana, Marta também se eximiu de responsabilidade no episódio do rompimento do acordo entre o PT e o PMDB, que preferiu compor com a candidata do PSB à Prefeitura, deputada Luiza Erundina, a apoiá-la.
A prefeita atribuiu o rompimento com o PMDB a intervenções externas ao âmbito municipal e alheias a seu governo.
Neste caso, diz Luizinho, Marta não tem como negar sua responsabilidade porque é impossível esconder a fita de sua entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura. Quando indagada sobre a possibilidade de entregar ao PMDB o posto de vice em sua chapa à reeleição, em plena campanha, Marta argumentou que o PMDB não era confiável.
O discurso feito ontem(20) pela prefeita provocou descontentamento também entre dirigentes do PT. Embora oficialmente eles procurassem mostrar despreocupação com o conteúdo da fala de Marta, não escondiam o mal-estar. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, esquivou-se. Disse que não ia entrar na polêmica.
Multa – Já o presidente nacional do PT, José Genoino, limitou-se a dizer que a avaliação feita pela prefeita de São Paulo não é a mesma feita pelo partido. Na resolução aprovada hoje pelo Diretório Nacional, o PT diz que as derrotas têm explicações locais e em causas gerais relacionadas com a atuação do partido. No texto do diretório, o "governo Lula exerceu uma influência equilibrada e positiva sobre o eleitorado".
Petistas que participaram do encontro lembraram que, durante a campanha pela reeleição, Marta ressaltou à exaustão ser "amiga" e "parceira" do presidente. No primeiro turno, Lula chegou até ser multado em R$ 50 mil por ter pedido, em inauguração de obra pública, votos para a prefeita.
Para complicar mais um pouco a situação do grupo de Marta com a direção do PT, Rui Falcão, candidato a vice derrotado, recusou o convite para integrar a Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do partido.