A diretora comercial da Gautama, Fátima Palmeira, admitiu em seu depoimento a ministra Eliana Calmon que a construtora, de fato, fazia movimentações em dinheiro, mas tais saques em espécie eram destinados ao pagamento de operários e de despesas de obras executadas em locais distantes dos grandes centros, de difícil acesso, e não ao pagamento de propinas. A informação é do advogado Luiz Fernando Pacheco, que integra o escritório responsável pela defesa dos acusados da Gautama suspeitos de envolvimento nas supostas fraudes apontadas na Operação Navalha.
Segundo o advogado, os diálogos captados pela Polícia Federal espelhariam "uma pressão legítima" de executivos da Gautama sobre autoridades públicas "no sentido de receber o que lhes era devido". Pacheco ainda explicou que Fátima afirmou em seu depoimento não conhecer o ex-ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau. Além de declarar que o envelope entregue por ela ao ex-assessor especial de Rondeau, Ivo Almeida Costa, continha apenas documentos, a diretora Comercial da Gautama também negou que o diálogo sobre a entrega de "500 agendas" travado entre Vicente Coni, diretor da Gautama no Maranhão, e Zuleido Veras, dono da empreiteira, envolvesse pagamento de propina.
Segundo ela, os dois conversavam sobre a entrega de agendas de fato. Para a PF, o diálogo representa um indício de que Zuleido Veras teria pago R$ 500 mil a servidores do Estado do Maranhão que teriam "arrumado" irregularidades em medições de obras da empreiteira. Partiu dos advogados a orientação para que Zuleido se recusasse a depor no último sábado. A defesa quer primeiro ter acesso a documentos ainda não disponibilizados no inquérito, como os relatórios sobre os resultados das buscas e apreensões. "O depoimento dele é o mais importante. Não é possível permitir que ele fale sem examinarmos com profundidade a documentação e ter acesso à integralidade dos autos do inquérito", disse Pacheco.
