Ainda não foi possível identificar ideológica e programaticamente o governo Lula. Considerando sua história de líder sindical e político e todo o retrospecto do PT, agremiação que criou, deveria ser um partido de esquerda, não longe da extrema-esquerda. Sabe-se que Lula ingressou no sindicalismo pelas mãos de um irmão comunista e comunistas (ou ex-comunistas) são muitos de seus mais diretos auxiliares, inclusive lideranças no Congresso e até ministros. Não se estranha, face a esse retrospecto, que já comecem a surgir vaias e oposição de organizações que ajudou a fundar ou sempre apoiou. No congresso da CUT, ele foi vaiado, se bem que mais aplaudido do que apupado. Mas alguns de seus ministros não escaparam a vaias mais estrepitosas, dentre eles o do Trabalho e o da Fazenda. O MST está pintando e bordando, invadindo não só propriedades particulares, como destruindo benfeitorias nelas existentes. E invadindo também repartições públicas. Tudo contra a expressa crítica e proibição de Lula e de sua equipe de governo.
Diz-se, nos dias de hoje, que as ideologias faliram. Que não mais existem e, portanto, não pautam mais os caminhos seguidos pelos políticos e pelos povos. Parece verdade quando se vê o comportamento do governo Lula. E verdade relativa, quando se observa o comportamento da CUT e do MST.
Mas Lula, que vem fazendo um governo que poderia ser considerado liberal e, para os verdadeiros esquerdistas, de direita, continua repetindo que tudo vai mudar e que o social será a prioridade. Seus correligionários, auxiliares e ele mesmo repetem que são socialistas, não esclarecendo bem de que matiz. Existem socialismos de vários matizes. Poderíamos começar pela social-democracia e terminar no mais ortodoxo, como o que existiu na Albânia, ou o utópico anarquismo.
Nesses pouco mais de cinco meses de governo, a administração Lula tem feito é entesourar. Juntar dinheiro, não se pejando de aumentar a carga tributária ou liderar os altos juros vigentes no mercado. Sua política com outras nações, no campo comercial, tem sido também capitalista, porém com a necessária defesa dos interesses nacionais contra o protecionismo dos mercados com que negociamos. Em relação aos organismos multilaterais de investimentos e os bancos internacionais, também desenvolve relações capitalistas. Sua política financeira reduz as disponibilidades do País para o próprio desenvolvimento, à custa de encolhimento ou até fechamento de nossas empresas e aumento recorde do desemprego.
Se fosse possível esquecer essas penalidades que tal política econômico-financeira inflige ao povo brasileiro, concordaríamos com o objetivo anunciado de tornar o País mais independente do mercado financeiro internacional. Mas esta é, também, uma política que as esquerdas sempre rejeitaram e foi considerada por elas neoliberal ou até de direita. Fica no ar uma importante interrogação. Se o governo Lula é socialista, mas não aplica o socialismo devido às circunstâncias atuais de excessivo endividamento do País e falta de recursos nos cofres do poder público, o que teremos quando adequado for o endividamento e estiver abarrotado de dinheiro o Tesouro Nacional? Mudará tudo, como prometeu e tem prometido o presidente Lula, que vez ou outra fala em câmbio no modelo econômico mais cedo do que se espera? Teremos um governo capitalista, social-democrata, neoliberal ou de direita?