O comediante Chacrinha já dizia que “quem não se comunica, se trumbica”. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, não se comunica com o povo. E pesquisa da DataFolha, com 2.306 eleitores em 132 cidades, teve o olho da rua apontado por 67% dos entrevistados. Tratava-se do caso Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil denunciado por extorquir bicheiros e donos de bingos para financiamento de candidaturas petistas e de seus aliados. E para o próprio bolso. Diniz não era apenas subchefe da Casa Civil, mas também amigo, homem de confiança e ex-colega de apartamento de José Dirceu. Paradoxalmente, apenas 53% dos entrevistados declararam ter tomado conhecimento do episódio que envolve Diniz. Se apenas 53% sabem do caso, como é que 67% deram opinião, condenando o todo-poderoso José Dirceu? E, se nada sabem, como é que inocentaram Lula?

Dizia um filósofo grego – e por ser filósofo e grego a gente logo vai tirando o chapéu com reverência – que “sábio é aquele que sabe que não sabe nada”. Conclui-se que os consultados naquela pesquisa, ou a maioria deles, era gente que nada sabia, embora desse opinião. Não eram, portanto, sábios no conceito do filósofo, mas não se pejavam em se comunicar, falando do que não entendiam. Se comunicaram, portanto, não se trumbicaram.

Nada menos de 81% dos consultados pela pesquisa respondeu, também, ser a favor de uma CPI para apurar o escândalo Diniz, aquele que não conhecem e já se adiantam, ditando condenação contra o ministro-chefe da Casa Civil e absolvendo o presidente Lula. O povo aplaude Lula ou é condescendente com ele, ao mesmo tempo em que tende a ser contra o seu governo.

Novamente invocamos o filósofo Chacrinha: Lula se comunica, discursa muito, fala pelos cotovelos. Por isso, não se trumbica.

Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, não se trumbica nem se trumbica o seu governo porque há o tradicional “jeitinho brasileiro”. Somos gente de paz. Se o que hoje acontece no Brasil ocorresse em outros países, já teríamos uma explosão social, quem sabe uma revolução.

Difícil analisar tantas contradições. Mas vamos tentar, lembrando que, em primeiro lugar, a grande massa dos brasileiros está tão calejada de maus tratos, custo de vida alto, salários microscópicos, desemprego, fome, falta de assistência à saúde, ausência de segurança, de escolaridade e outras misérias, que tende a acreditar que aqui é mesmo o quinto dos infernos, como pensava a nobre da corte de dom João VI. E se é, a gente se conforma e, como desabafo, condena algum bode expiatório por um problema que nem se conhece. Com esse ato, estão condenando Dirceu por todos os nossos males. E exonerando Lula, pois ele, por sua linguagem e origem, é um dos nossos, habitante típico deste quinto dos infernos.

A maioria dos brasileiros não lê jornais. Não tem tempo nem dinheiro para comprar. Muitos, sequer sabem ler. Na televisão, vêem novelas, pois os fatos e a linguagem dos noticiários fogem ao seu baixo nível de escolaridade. No rádio, se distraem ouvindo aqueles locutores que ficam falando na latinha da vida alheia, invocando santos e a divindade e distribuindo conselhos. Sonham com uma cadeira de vereador ou deputado. Parte do sofrido povo brasileiro acredita que político bom é aquele que ouve suas queixas, lhe dá conselhos e, de lambuja, dentaduras, cadeiras de rodas e coisas que tal. Isso quando já têm um mandato, pois compra essas necessidades com o dinheiro do próprio povo.

Conclusão final: por paradoxal que seja, a voz do povo deve ser mesmo a voz de Deus.

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