O Ministério Público Estadual revelou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) o nome de uma nova testemunha que pode reforçar as suspeitas de envolvimento do deputado cassado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) com o suposto esquema de propinas na administração Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André seqüestrado e morto em janeiro de 2002

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Altivo Ovando Júnior, secretário de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo declarou aos promotores criminais que investigam fraudes na administração de Celso Daniel que Dirceu sabia da corrupção. "O então presidente do PT, José Dirceu, também tinha conhecimento da arrecadação de propina em Santo André, como relatava em reuniões no gabinete do prefeito", afirmou Ovando Júnior, referindo-se a Oswaldo Dias (PT), prefeito de Mauá entre 1997 e 2004. "O Dirceu falava abertamente, sem constrangimento algum", afirmou o secretário ao Estado

O ex-prefeito, pré-candidato à Camara pelo PT, disse que se lembrava de ter recebido Dirceu em Mauá "uma ou duas vezes nesses oito anos", mas nunca em seu gabinete. "Não me lembro do Dirceu no meu gabinete, muito menos tratei uma palavra sequer com o Altivo para essa discussão de fundo de campanha. Nunca tratei isso com ele", insistiu Dias. Ele afirmou não ter nada contra Ovando, mas fez a ressalva de que hoje seu ex-secretário trabalha para a oposição. "O Altivo trabalha aqui na administração que é nossa oposição. Mas não tenho nada pessoalmente contra ninguém, nem ele contra mim.

O caso Santo André é uma história intrincada de corrupção, segundo conclusão da promotoria criminal. O MP argumenta que "quadrilha organizada estável" tomou conta de setores da administração Celso Daniel. O dinheiro do esquema seria usado para abastecer campanhas eleitorais do PT

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Quatro meses depois do assassinato de Daniel, o irmão mais velho dele, João Francisco, denunciou ao MP ter ouvido de Gilberto Carvalho, hoje assessor especial do presidente Lula, que parte do dinheiro da propina era levado para Dirceu, então presidente do PT. À CPI dos Bingos, outro irmão do prefeito morto, Bruno Daniel, confirmou tudo

O depoimento de Ovando foi tomado em fevereiro pelo MP, mas só agora os promotores o divulgaram por meio de cópia que enviaram ao ministro Eros Grau, do STF. Há duas semanas, Grau concedeu liminar para a defesa de Dirceu, proibindo a promotoria de investigar o ex-presidente do PT. O ministro advertiu que a corte máxima da Justiça já havia barrado a apuração – em 2002, o ministro Nelson Jobim arquivou pedido do MP para rastrear os passos de Dirceu.

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