Brasília (AE) – O deputado José Dirceu (PT-SP) reagiu hoje às críticas de que ajudou a criar o tumulto na sessão de ontem (22) da Câmara, ao trazer uma claque de 200 militantes petistas para assistir das galerias ao discurso com o qual reassumiu o mandato.
"A casa é do povo, não é das elites. Tem de se acostumar", disse, ao se eximir de culpa pela desordem em que terminou a sessão. "Estava todo mundo identificado e de crachá", acrescentou, ao se referir aos militantes trazidos pelo partido do Distrito Federal para apoiá-lo. Dirceu também procurou minimizar a importância do episódio para o aumento do desgaste da imagem do Congresso. "No Japão e na Inglaterra, é muito pior. Os deputados pegam o sapato e batem na mesa." Dirceu deu as declarações pouco antes de comparecer, à tarde, à Comissão de Sindicância da Casa que investiga as denúncias de pagamento do "mensalão" a parlamentares dos partidos aliados do governo no Legislativo. Depois da volta à Câmara com discurso de chefe de governo, hoje foi efetivamente o primeiro dia do ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil na planície. Pela manhã, circulou pelo plenário e foi ao gabinete da liderança do governo.
À tarde, antes do depoimento na comissão de sindicância sentou-se a mesa do café dos fundos do plenário, ponto de encontro dos parlamentares do alto e do baixo clero, para bater papo com o deputado Paulo Lima (PMDB-SP).
"Para conversar sobre política de São Paulo", acrescentou Dirceu, que reiterou a vontade de governar o Estado, revelada ontem na tribuna da Câmara.
A amigos, o ex-ministro manifestou despreocupação com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mandar o Congresso instalar a comissão parlamentar de inquérito (CPI) dos bingos, pedida pelos partidos de oposição para apurar as denúncias contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz, que foi até 2003 assessor dele no ministério. Primeiro, segundo relatou Dirceu a esses interlocutores, porque nem a oposição demonstra ânimo para revirar as acusações contra Diniz – envolvido em denúncias de cobrança de propinas do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o "Carlinhos Cachoeira". Além disso, alega Dirceu, as investigações do Ministério Público (MPF) e da Polícia Federal (PF) nada encontraram de concreto contra o ex-assessor, mesmo com busca e apreensão de documentos na presidência da Caixa Econômica Federal (CEF).
Dirceu, segundo disse a esses amigos, viu também aspectos positivos na decisão do STF. Para o ex-chefe da Casa Civil, ao sacramentarem que a instalação de CPIs é um direito das minorias, os ministros do STF ajudarão o PT a alimentar a briga com os tucanos em vários Estados. No ponto de vista de Dirceu, os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e do Pará, Simão Jatene (PSDB) perderam um argumento para travar a instalação nas Assembléias Legislativas dos Estados de CPIs pretendidas pelos petistas para investigar as administrações tucanas.