Um dinossauro de 228 milhões de anos, encontrado no Rio Grande do Sul, promete acrescentar um capítulo importante na história dos répteis gigantes. Ele remete a espécies que, até onde os cientistas sabem, só foram aparecer na Terra milhões de anos depois

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O bicho tinha apenas 40 centímetros de altura, 1,50 metro do focinho à ponta do rabo e 12 quilos, e andava nos membros traseiros. Aliás, corria. Para completar o ?kit agilidade?, seus ossos eram leves, longos e ocos, semelhante aos das aves. ?Ele era um corredor muito rápido, carnívoro. Por isso, no modelo, usamos cores fortes de corredores rápidos atuais, como o guepardo?, explica o paleontólogo Sergio Cabreira, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), que achou o material. É impossível saber qual era a aparência exata dos dinossauros, pois a pele não se preserva

Peças Únicas

A equipe da Ulbra achou 91 pedaços do mesmo animal, sem contar cada dente, em Agudo (RS), na maior formação do período triássico do Brasil. Lá estavam boa parte do crânio e da mandíbula, um grande trecho da coluna cervical, parte da pélvis e ossos de membros superiores e inferiores. Além da quantidade, os fósseis estavam ?limpos?, sem óxido de ferro, em excelente estado de conservação

Só isso já encheria os olhos de qualquer paleontólogo. Porém, a grande surpresa veio nas primeiras análises. O bicho, que ainda não foi batizado (é por enquanto chamado pelo código ULBRAPVT016), apresenta características anatômicas incomuns em dinossauros desse tipo naquela época

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Na pélvis, ele tinha as 4ª e 5ª vértebras sacrais longas e fundidas (como no homem adulto) e um ílio longo, visto em caçadores bípedes ágeis. Eles dão estabilidade e rigidez da cintura pélvica, essencial para um movimento seguro em dois pés

Estes itens não estão presentes em outros dinos primitivos da mesma época, diz Cabreira, como o argentino Herrerasaurus ischigualastensis. Ele vai além: o paleontólogo acredita ser este o ?elo perdido?, o ancestral dos dinossauros que dominaram o mundo no período seguinte ao triássico, o jurássico

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Segundo ele, o H. ischigualastensis e outros dinossauros da mesma época não vingariam nos milhões de anos seguintes – enquanto seu dino seria o avô dos grandes répteis bípedes. Ele afirma que uma análise da genealogia do bicho confirma o ineditismo

Dúvida

Tudo o que Cabreira afirma é revolucionário. Porém, nenhuma comprovação foi apresentada para seus colegas até agora

Uma etapa fundamental para a aceitação da descoberta é a publicação de um artigo detalhado sobre a descoberta em uma revista especializada. Segundo o paleontólogo da Ulbra, um resumo com detalhes sairá na próxima edição da Revista Brasileira de Paleontologia, mas a descrição final só virá em alguns anos.

?Parece ser mesmo uma linhagem completamente diferente?, diz o paleontólogo Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP). ?Se só essa suspeita se confirmar, já será fantástico.? Porém, Langer acha que chamar o dino de ?elo perdido? é ?uma informação ingênua, já que todo animal cumpre, a rigor, um papel de ligação entre uma espécie e outra?.

Outro paleontólogo, Alexander Kellner, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem a mesma opinião. ?O problema é não ter o trabalho publicado. Fica muito difícil avaliar se a descoberta é exatamente a que se está dizendo ou não?, afirma. ?De qualquer forma, pelas figuras, o material é, sem dúvida, algo importante que merece ter um tratamento científico adequado.