Lula e o PT vivem um sério dilema: como resolver o problema sucessório? O governo caminha, ou se arrasta, com o auxílio de duas muletas: o próprio PT e o PMDB, que o apóia sem muita convicção e sempre negociando posições e favores. O presidente Lula é do PT e já está no segundo mandato. Eleger-se uma e duas vezes não foi lá muito difícil. Difícil tem sido explicar e escapar das penas que lhe infringem pelos métodos utilizados para montar e manter sua precária base congressual e política.

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A coisa foi feita na base do dinheiro que o PT não tinha e de cargos, que tinha em profusão e ainda multiplicou chocando dezenas de secretarias e ministérios que botaram milhares de cargos.

No Congresso Nacional, onde estão os réus passivos desse processo de cooptação, a coisa se arranja. Lá, a grande maioria acusada de prática de métodos como o mensalão acaba escapando, pois vota em causa própria e se serve do execrável espírito corporativo. Começam a penar, entretanto, quando as compras de votos e apoios caem no Ministério Público e na Justiça. Exemplo: a recente denúncia da Procuradoria Geral da União, aceita pelo Supremo Tribunal Federal, contra quarenta figurões envolvidos nesse troca-troca com dinheiro escuso, em grande parte o nosso, do povo. Se não mais perdeu até o momento, é certo que o PT viu-se destituído de sua bandeira de agremiação ética. Hoje tem uns poucos éticos e autênticos, mas há um grande número que não mais pode se proclamar ético nem autêntico. O partido de esquerda, puritano, de bases populares, passou a ombrear com outros do centro e da direita e igualmente vinculados a grupos econômicos no interesse de financiamento das campanhas eleitorais.

O PMDB, mesmo colado com cuspe ao PT para montar o governo, já deixou bem claro que o próximo candidato situacionista será um de seus membros. É uma aliança que caminha aos tropeços e que até pode romper-se às vésperas das eleições, mas que hoje é indispensável para que Lula governe.

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Para que tenha candidato próprio, pleito de que ainda não abriu mão, o PT e Lula precisam pelo menos de um nome forte e que tenha o apoio tanto das bases partidárias autênticas quanto das fisiológicas e da grande massa de eleitores que se beneficia de seus projetos sociais. Há referências, sem muitas convicções, a alguns nomes. São eles: Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Tarso Genro (Justiça), Fernando Pimentel (prefeito de Belo Horizonte), Marta Suplicy (Turismo), Jaques Wagner (governador da Bahia) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Destes, pode-se dizer que só têm consistência Jaques Wagner e Dilma Rousseff. O governador da Bahia figura na lista de candidatos a candidato porque conseguiu o espetacular feito de vencer as forças ?carlistas?. Mas não tem nome nacional e dificilmente repetiria conquista dessa ordem no plano nacional. Resta Dilma Rousseff, que só agora começa a aparecer como possível candidata à Presidência da República pelo PT.

Trata-se da figura mais forte do Palácio do Planalto. Nada passa no governo sem o seu apoio, crivo ou mesmo sua decisão. Há vezes que parece ter mais poder até que o próprio Lula. Suas decisões são precisas, tanto na parte técnica, quanto na política. É uma ex-guerrilheira urbana de esquerda. Mas como a maioria de seus correligionários que se alçaram ao poder, é hoje uma figura capaz de dialogar com a iniciativa privada e até defende a associação com ela. Seria mais uma petista arrependida.

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No que toca à sua competência, é certo que, em termos comparativos, é uma das mais destacadas figuras do governo. E todos a respeitam. Ela ocupa o lugar do antes todo-poderoso José Dirceu e em pouco tempo já foi capaz de mostrar que, na prática, é mais forte do que aquele que foi o segundo nome do governo Lula. No mais, parece óbvio que o eleitorado, nem que fosse pela novidade, veria com bons olhos aparecer, pela primeira vez, uma mulher como candidata a presidente do Brasil.