A diferença econômica entre brancos e negros no Brasil, hoje, é praticamente a mesma de 20 anos. A informação consta do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 ? Racismo, Pobreza e Violência, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O documento mostra que a renda média de uma pessoa negra em 2000 representava menos da metade do que ganhava um branco em 1980.
De acordo com o estudo, essa lacuna de faixa salarial explica o perfil da pobreza no país. Entre os pobres, há dois negros para cada branco e, embora o percentual de pobres na população tenha diminuído bastante em 20 anos, a proporção de negros nessa camada social nunca ficou abaixo de 64% no período. O estudo define como pobres as pessoas com renda abaixo de R$ 75,50, em valores de 2000. "A herança da escravidão explica apenas em parte a pobreza generalizada da população negra. A sociedade e o Estado brasileiros estão fundados em estruturas racistas", disse a editora do relatório, Diva Moreira.
As desigualdades entre brancos e negros não se restringem à questão salarial, mas estão presentes também no emprego, no tempo de estudo, de vida e no tipo de moradia. A taxa de desemprego da população negra, entre 1992 e 2003, foi 23% maior do que a da população branca. Os brancos entraram no Século 21 com 6,7 anos de estudo, quatro a mais do que nos 40 anos anteriores, quando o tempo médio de escola era de 2,7 anos. O tempo médio de permanência dos negros na escola é de 4,7 anos neste início de século, contra um ano em média em 1960.
A diferença também está presente no acesso à saúde e na qualidade de vida. A esperança de vida aumentou no Brasil nos últimos anos, mas os brancos continuam tendo mais tempo de vida que os negros. A população branca chega, em média, a 71,5 anos de idade e a população negra, a 66,2 anos de idade.
O número de negros que vivem em condições precárias, em favelas e palafitas, com pouco acesso a serviços como água potável e esgoto, é muito maior: 5,1% dos negros vivem nessas condições, contra apenas 2,8% dos brancos.
Os dados levaram o editor chefe do relatório, Carlos Lopes, a concluir que o racismo, presente no país há vários séculos, põe a população negra em situação de desigualdade em todas as dimensões pesquisadas. "Isso exige um esforço conjunto de Estado e sociedade, e o racismo não será superado sem a implementação de ações afirmativas e políticas que contemplem a diversidade cultural", disse.