Brasília – Se quiser recuperar a massa salarial do trabalhador brasileiro nos próximos quatro anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve adotar pelo menos quatro medidas, na opinião de Clemente Ganz, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Ganz considera essencial a recuperação do poder de compra do salário mínimo, a capacidade dos sindicatos em negociar bons acordos coletivos junto às empresas, a geração de emprego, e a queda permanente dos preços na economia.
Segundo o técnico do Dieese, vários fatores contribuíram nos últimos 20 anos para que houvesse uma perda no poder de compra e uma queda da massa salarial no país. ?Isso inviabilizou o incremento salarial, prejudicou a capacidade de arrecadação do estado, que foi obrigado a aumentar impostos, inviabilizou projetos empresariais e pôs fim à geração de emprego?, explica.
Para sair desse ?ciclo que destrói?, segundo Ganz, é preciso agir em função dos quatro mecanismos citados acima para aumentar a massa salarial, além de incrementar a capacidade de poupança e baixar a taxa de juros.
?Mas não adianta crescer sem distribuição de renda. São necessárias políticas públicas para chegar a esse fim, como melhorar o salário, transferir renda como o Bolsa Família, ou mesmo melhorando os serviços públicos nas áreas de saúde, educação e transportes, garantindo assim que a renda do trabalhador seja usada de forma plena?, completa.
De acordo com o pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), economista Márcio Pochmann, o Brasil criou 2,8 milhões de postos de trabalho com carteira assinada entre setembro de 2004 e outubro deste ano.
Porém, a massa de salários do mercado formal de trabalho não foi ampliada. Houve, sim, uma redução de R$ 133 milhões no valor dessa massa. O estudo de Pochmann sublinha que o total de salários pagos aos admitidos somou R$ 14,852 bilhões no período, enquanto a massa de rendimento dos demitidos foi de R$ 14,985 bilhões.
Segundo o pesquisador, o mercado de trabalho formal do país vem crescendo desde 1999, mas continua criando empregos de baixo salário devido ao pouco valor agregado dos produtos nacionais.