O presidente venezuelano, Hugo Chávez, exagerou nas tintas ao criticar o Senado brasileiro, que agiu de acordo com a Constituição Federal, ao emitir opinião contrária ao cancelamento da concessão atribuída à Rádio Caracas de Televisão para a utilização do espectro radioelétrico – um bem pertencente ao Estado – que resultou no desaparecimento do seu sinal.
Claro está que o Senado se manifestou na exata dimensão permitida pelas normas de boa convivência diplomática entre países amigos, ainda mais que a Venezuela pertence à Organização dos Estados Americanos (OEA) e se apresta a oficializar a condição de país-membro do Mercosul.
Aliás, condição que torna implícito o estrito cumprimento dos parâmetros fundantes das respectivas instituições, sobretudo no que tange ao respeito às garantias individuais, liberdade de expressão e plenitude democrática.
O desbordamento, é forçoso reconhecer, partiu do presidente venezuelano ao inquinar nossa Câmara Alta com expressões indignas da relevância política e institucional da Casa, não obstante a erupção dos problemas familiares que atazanam a pessoa do presidente Renan Calheiros.
Cumprindo agenda na Índia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comportou como um chefe de Estado e amenizou o tom desabrido das críticas de Chávez, embora tivesse resguardado a soberania do Senado. Decerto, Lula fez chegar aos ouvidos do colega venezuelano, pelo canal reservado, o que realmente pensa sobre o destempero verbal que o major tem protagonizado nos últimos tempos.
Lula teve também a habilidade de afirmar que Chávez não constitui ameaça para a América Latina, reservando a ele o tratamento de parceiro. Todavia, assegurou aos jornalistas que o assunto será necessariamente desdobrado no seu imediato retorno ao Palácio do Planalto.
É possível que a intenção de Lula tenha sido influenciada pela má vontade proveniente do presidente Evo Morales, da Bolívia, cuja conseqüência foi o desfecho desgastante da questão relacionada com os ativos da Petrobras no território do país vizinho. O governo brasileiro, longe de apelar para rompantes hegemônicos, sem baixar a guarda, deve estimular o diálogo construtivo.
