Para quem esperava que Antônio Palocci comparecesse ao Senado e se complicasse em razão das acusações de irregularidades nas suas duas gestões quando prefeito de Ribeirão Preto, a sessão em que falou, por infindáveis horas, na Comissão de Economia do Senado, foi uma frustração. Mas estes são poucos e serão satisfeitos ou frustrados quando ele comparecer na CPI dos Bingos. O compromisso já foi ajustado entre os parlamentares, com a aquiescência do próprio ministro.
Embora tivesse tocado, espontaneamente, nos casos de corrupção de que o acusam, sempre negando com firmeza, Palocci deu alguns esclarecimentos sobre a sua política econômica, para frustração das esquerdas que ainda apóiam Lula, as que já o combatem e os centristas e direitistas que reclamam de falta de recursos para investimentos e dos juros elevados.
O ministro foi claro: foi convidado para ser ministro de Lula para praticar uma política de aperto fiscal. E só será ministro com esse objetivo. Se a política, a mando de Lula, tomar outro rumo, seja por pressão da sociedade, do empresariado ou de investidas como as da ministra Dilma Rousseff, deixam de existir razões para que continue no ministério. Cairá fora.
Como Lula defende essa política, embora tivesse falhado ao não declarar de pronto que apoiava o próprio ministro, Dilma Rousseff que tire o cavalo da chuva. E se estivéssemos ainda naquele tempo em que um ministro, desautorizado, pegava o seu chapéu e sua bengala e ia para casa, a ministra pegaria sua bolsinha e se recolheria à planície. Embora seja tida como ministra forte, com prestígio e muito poder no Planalto, no episódio com Palocci ficou falando aos quatro ventos.
Mas, neste governo, petistas e aliados se desentendem em público e nada acontece. É prática comum. Ainda agora, o governador Zeca do PT choca-se de frente com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre o projeto do governo do Mato Grosso do Sul de fazer usinas de álcool nas cabeceiras dos rios que alimentam o Pantanal. O governador censurou a ministra, disse que ela deveria ter economizado a passagem de ida ao seu estado e parece que tudo ficará na mesma.
Oxalá o governo não se transforme num saco de gatos, com repetidas e ruidosas brigas, pois gatos em outro sentido a oposição já afirma e as CPIs procuram provar que já existem.
Palocci deixou uma coisa muito clara e frustrante para muitos brasileiros, sejam fãs das hostes situacionistas, sejam da oposição. Declarou que o ?sucesso? da política econômica, que se caracteriza por um severíssimo ajuste fiscal, não é obra só do governo Lula, mas vem sendo construída desde o governo José Sarney, passando por Itamar, reforçando-se com FHC e consolidando-se com o atual governo. Que é uma obra que precisa continuar por mais pelo menos uns dez anos. Ou seja, a política que chamam de neoliberal e que tira receita que poderia ser destinada ao desenvolvimento nacional e geração de empregos, para pagar a dívida externa, praticada por ministros como Pedro Malan, continua e vai continuar por mais uns dez anos, a valer a vontade e opinião abalizada de Palocci. Ou continuará, no mínimo, se Lula for candidato à reeleição e reeleito, a menos que mude de opinião e tire o tapete do seu atual ministro da Fazenda.