A hipótese de que o desligamento do transponder do jato Legacy tenha contribuído para o acidente do vôo 1907, que resultou na morte de 154 pessoas na sexta-feira passada, poderá não ser comprovada. Isso porque as caixas pretas dos aviões não necessariamente gravam o comportamento desse aparelho, que transmite dados como número do vôo, tipo de avião e altitude. O Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica (RBHA) lista 88 procedimentos que são obrigatórios, mas não menciona tal equipamento.
O especialista em segurança de vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, conta que tem em mãos uma lista dos procedimentos que a caixa preta de um Legacy similar ao envolvido no acidente deve gravar. No entanto, só deverá analisá-la na segunda-feira, quando também deverá se debruçar sobre outra relação dos itens que são gravados pela caixa preta de um Boeing 737-800. "Não é certo que uma caixa preta grave se o transponder está ligado. Algumas não gravam. Não é padrão", diz Jenkins. De acordo com o especialista do Snea é a fabricante do avião que determina o que deve ser gravado na caixa preta, obedecendo critérios estabelecidos pelo regulamento do setor.
Jenkins também esclarece que o relatório final da investigação não poderá ser usado no inquérito instaurado pela Polícia Civil e pela Polícia Federal de Mato Grosso sobre o acidente. O motivo é que esse relatório deverá conter análises e considerações elaboradas pela comissão investigadora, baseada na experiência do grupo em ocorrências como essa. O inquérito policial só poderá contar com o auxílio de fatos ocorridos no acidente.
O especialista em segurança de vôo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), coronel Douglas Machado, já havia explicado que em casos de acidente com vítimas fatais, cabe à polícia fazer um inquérito sobre a responsabilidade. A Aeronáutica, diz ele, fornece subsídios, mas não pune. Havendo prova de falha humana de um piloto, o coronel afirma que a Anac pode pedir a cassação do brevê.