Uma classificação que não orgulha o curitibano, crente na decantada qualidade de vida que os gestores públicos das últimas décadas transformaram em comissão de frente de sua alegórica propaganda: o Ministério da Justiça divulgou o Mapa das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis, no qual se descobre que Curitiba é a capital mais violenta do País.
De alguns anos a esta parte, prestigiosas publicações do eixo Rio-São Paulo têm publicado laudatórias reportagens sobre a vocação da cidade como centro preferencial de negócios, como se por estas bandas habitassem novéis Cresos, com a prodigiosa faculdade de transformar idéias ousadas em torrentes de dinheiro. Pois temos agora, acompanhando de perto essa gloríola, um coadjuvante menos civilizado: a violência.
Como desgraça pouca é bobagem, a região metropolitana nos fornece um foco adicional de violência urbana – São José dos Pinhais -, encerrando-se a tríade malquista com a fronteiriça Foz do Iguaçu. A violência somente é maior no Estado de Pernambuco, onde o Ministério da Justiça aponta quatro municípios entre os dez mais perigosos do País: Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e -quem diria! – a pacata Olinda, prenhe de história e atrações turísticas. Os demais municípios da dezena que puxa a fila dos caracterizados por oceânicos índices de violência são Duque de Caxias (RJ), Cariacica (ES) e Goiânia (GO).
Os dados registrados pelo Ministério da Justiça se referem ao período 2004-2005 e mostram o quadro desalentador da ineficácia dos aparatos policiais em proteger o cidadão e seu patrimônio, contra a sanha invasiva da criminalidade. No período, o Paraná registrou 9.530 crimes de morte, sendo Curitiba e São José dos Pinhais, situadas na região mais populosa do Estado, a terceira e quinta cidades mais violentas do Brasil. Entre elas aparece Foz, outro recanto turístico de fama internacional. Ao todo, as três cidades contaram 2.733 crimes de morte do total apurado pelas polícias civis.
Problemas de natureza social são argüidos para amenizar, em parte, a responsabilidade dos governos quanto ao inchaço do catálogo da criminalidade. O pesquisador do Ipea e professor da Fundação Getúlio Vargas Daniel Cerqueira, embora inclua o desequilíbrio social como atração para a marginalidade, relata que os estados ?possuem sistemas de segurança pública que são sinônimos de polícias fragmentadas, malpreparadas e fora de controle, onde o policial na ponta goza de incríveis incentivos para auferir renda nos mercados privados legais ou ilegais?. E a tecla pressionada é a mesma de sempre, qual seja, a de ?prover melhor treinamento e valorização? para os agentes da lei.
Cerqueira adiciona uma faceta que não chega a ser nova, mas contribui para aumentar a extensão da desídia oficial com os aparelhos de segurança, frisando que ?o crime organizado só ganha força na medida que existe uma espécie de mercado segurador instituído à sombra do Estado, que regula e mantém o bom funcionamento dos mercados criminais, e que é operado por segmentos corruptos pertencentes às instituições coercitivas?. Explicação acadêmica para o que se chamava de banda podre. Afirmativa e operante, para desgraça nossa.