A última pesquisa de opinião revelada à nação dá conta de que a desaprovação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva quase dobrou no decorrer dos últimos seis meses. Subiu de 13% em março para 24% em setembro. Este é um dado relevante para quem, durante a campanha, semeou a esperança por todo o País e prometeu uma nova era. Além da desaprovação, aumentou também a desconfiança em relação ao governo, além do temor de que a inflação, o desemprego e outros males que afligem a todos continuem a subir.
Por uma coincidência muito especial, também lá fora, no exterior, o conceito sobre o governo do ex-metalúrgico se turva, não por suas quase inúteis bravatas em repreensão à hegemonia norte-americana, mas à conta da recente visita que fez ao amigo Fidel Castro. Quem executa, no paredón, desafetos políticos de forma sumária, como fez o ditador de Cuba, não merece o respeito, nem a consideração, muito menos a amizade de pessoas livres.
A última viagem do presidente Lula ao exterior poderia ter terminado em Nova York. Ele resolveu ir ao México e a Cuba, onde usou dois pesos e duas medidas. No primeiro país, manteve a postura de um estadista, conversando com o governo, mas também com representantes da oposição. Em Cuba, entretanto, questionado por que não repetia a cena mexicana, Lula justificou que não se mete em política interna de outro país. Balela! Passou ao largo, assim, de um problema que ocupa as cabeças pensantes de todo o mundo, mesmo as mais simpatizantes de um comunismo anacrônico e falido. A decepção sobre o comportamento de Lula é agora maior que o tamanho da admiração antes granjeada.
Não bastasse isso, vem agora o embaixador brasileiro em Cuba, Tilden Santiago, para carimbar o amado chefe como o sucessor de Fidel. O diplomata viu no elogio feito pelo velho general (“Lula tem uma visão estratégica a médio e longo prazos”) a deixa de uma grande vocação para a liderança sem fronteiras: “É como quem diz: achei um sucessor para liderar na América Latina”, disse o embaixador, dias depois, em Brasília.
Enquanto lá fora assim sucede, aqui dentro os gráficos do prestígio de Lula em queda coincidem com a realidade que dia após dia contrasta mais com o discurso da esperança. A vida das pessoas está piorando. Há queda de renda e aumento do desemprego, além de outras preocupações não menores na área da saúde, da segurança, da educação, da habitação e por aí afora. Por mais que ele insista na tese quase bíblica de que há tempo para semear e tempo para colher, o sentimento impresso nas pesquisas é de impaciência e desilusão pela demora. O espetáculo do crescimento, por exemplo, foi anunciado para julho, numa época em que a nação já questionava fundo a política econômica de rédeas curtas e juros altos. Passou julho, agosto e setembro. E o espetáculo, apesar do esforço traduzido com a distribuição de crédito mais barato à custa do endividamento familiar, sequer começou.
Se, para um político, 69% de aprovação ainda é um “índice estratosférico”, como querem alguns analistas de plantão, há que se considerar a facilidade com que qualquer político de primeira grandeza é capaz de despencar das alturas da admiração para as profundezas da desaprovação geral em curto espaço de tempo. De Collor a Sarney e a FHC – todos sabem disso. Lula também deve saber que “na descida todo santo ajuda” e o resultado obtido até aqui por certo não lhe deve agradar. Mais por saber que uma das ações que mais esperam os súditos é a redução dos impostos – coisa de que não se ocupa a encalhada reforma tributária – condicionante para a prometida ação de dez milhões de empregos novos em quatro anos. Um quase se foi.