Desesperanças

O ministro José Dirceu, da Casa Civil, efetivamente não vive um bom momento e deveria, aceitando a sugestão do senador Tasso Jereissati, tirar uns dias de férias numa chácara qualquer, bem retirada, para esfriar a cabeça e adquirir a serenidade necessária ao exercício das altas funções que ocupa no governo da República. Se assim agisse, enxergaria, talvez, que o caso Waldomiro se confunde com o caso Dirceu e entenderia melhor por que ele se transformou, de repente, no olho desse furacão que paralisa o governo das esperanças em decomposição.

Com todo o esforço para trazer Brasília de volta às atividades normais, após um longo período de intrigas, futricas e falta de ação do governo, Dirceu fez explodir essa briga com governadores que, apesar de pertencerem a partidos diferentes do seu, empenham-se na tarefa de preservar a política econômica da equipe do presidente Lula. Devia agradecer, mas ofendeu a todos dizendo que nenhum governador – mesmo os responsáveis pelos dois principais estados brasileiros – resistiria um mês sem as bênçãos do governo central. Além de presunçoso, Dirceu foi prepotente. Recebeu o primeiro puxão de orelha presidencial e teve que pedir públicas desculpas.

Não bastasse isso, há a guerra de morte aberta com o Ministério Público, acusado pelo “primeiro-ministro” de promover “violências legais a todo momento” na reabertura das investigações da morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. “O ministro está passando dos limites, demonstrando falta de maturidade e equilíbrio”, disse o presidente da Associação do Ministério Público do Rio de Janeiro, Marfan Martins Vieira. “Se o ministro e o PT são tão transparentes e abertos como dizem, por que não usam o caso para mostrar efetivamente que não têm o que esconder?”, pergunta outro presidente, José Carlos Cosenzo, do MP de São Paulo.

Tanto no caso Waldomiro quanto no caso Celso Daniel, a questão em jogo é saber até que ponto ia ou foi o envolvimento do PT (e por extensão do governo do PT) com crimes que abalam a nação. Em ambos os casos, o governo, tendo o ministro José Dirceu à frente, se empenha em dificultar, de todas as maneiras possíveis e imagináveis, investigações mais fundas.

No Waldogate, a sindicância realizada pelo Palácio do Planalto concluiu que o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares cometeu, sim, atos de improbidade administrativa e faltou com a ética no exercício do cargo. Mas não faz qualquer menção ao chefe imediato do meliante, José Dirceu, de quem era amigo e sob cujas ordens trabalhava há muito tempo. Ninguém acredita que Dirceu tenha sido tão “in-com-pe-ten-te”, a ponto de ser também cego e surdo para não ver nem ouvir o que o subordinado fazia. Ademais, está mais que evidente que as ações de Waldomiro não se limitavam – como queria em sua defesa o ministro – ao período anterior à sua nomeação para o importante cargo.

Sob os efeitos desses dois casos que tiram o governo Lula do sério, há ainda outros a complicar um pouco mais o cenário político nacional. Enquanto PSDB e PFL selam o primeiro pacto de oposição ao governo, estouram de norte a sul greves do funcionalismo público – dos fiscais da Agricultura àqueles da Receita, do pessoal do INSS aos agentes da Polícia Federal, todos reivindicando aumentos salariais que o governo federal jura não ter como atender. Logo virá aí o debate pelo novo salário mínimo e pouco já se fala das reformas da legislação trabalhista e sindical, depois de ter sido sepultada a idéia da reforma política e partidária…

Mas o que é mais sério e grave em tudo isso é ver que, enquanto se enrola em seus próprios problemas, o governo do PT não consegue mostrar onde está a porta para o crescimento econômico prometido e para a geração de empregos. Depois de tantas esperanças despertadas, o Brasil não merece entrar noutro ciclo de desilusão.

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