As lideranças oposicionistas no Congresso Nacional apontam o desemprego e a elevada criminalidade como os dois pontos fracos do governo Lula. E deixam claro que baterão duro no governo que não criou nem criará os prometidos dez milhões de empregos e que permite que a criminalidade cresça até acima do que se verificava no governo FHC. Isso, apesar de o problema do aumento da taxa de crimes ter existido também na administração passada. Há uma relação de causa e efeito entre o elevado desemprego, a falta de oportunidades de trabalho para os jovens que buscam adentrar o mercado de trabalho e o aumento da criminalidade. Despiciendo explicar, pois é óbvio que num País em que os desempregados, os subempregados e os mal remunerados contam-se aos milhões, não se há de esperar que inexistam em grandes proporções as ações ilegais, inclusive a violência. E das carências pessoais e familiares ao crime, inclusive o organizado, os passos são curtos e a caminhada às vezes inexorável.
Deveríamos colocar as forças armadas no combate ao crime; é indispensável a união das polícias civis e militares; necessitamos de polícia científica; é preciso considerar federais certos crimes para que possam ser combatidos pela polícia da União, tida e havida como mais eficiente; deveríamos ter leis penais mais enérgicas, para inibir os criminosos e punir os que mereçam castigos severos. Enfim, mas não finalmente, deve haver o desarmamento, para o que já existe legislação, mas falta regulamentação.
É certo que tudo pode e deve ser objeto de cogitações e debates e que o crime deve ser combatido com o maior rigor e eficiência possíveis. Nesta semana, no Rio de Janeiro, além dos já comuns tiroteios entre quadrilhas de traficantes de tóxicos, sempre com vítimas, não raro de trabalhadores, donas de casa e crianças que moram nas favelas-esconderijos dos bandidos, dois crimes ganharam as manchetes. Um vereador foi metralhado e morto, mesmo estando dentro de um carro blindado; e um executivo da Bradesco Seguros, que estaria investigando fraudes no seu setor de trabalho, foi também assassinado por um bando de pistoleiros, dentro de seu carro.
Há alguns anos, o então embaixador do Japão no Brasil, em entrevista a O Estado do Paraná, explicando o milagre de desenvolvimento experimentado por seu país depois da derrota na II Guerra Mundial, foi taxativo: ?Investimos maciçamente na educação, principalmente na educação básica?. Não só isso, mas principalmente isso. Ainda não nos demos conta, nem a nação, nem seus governos, que a elevada criminalidade é efeito e não causa. Que é efeito de um organismo malformado, doente, que é a nossa sociedade e seus governos, reflexos dela. A criminalidade só é diminuta em países onde há justiça social, entendida como educação adequada para todos; moradias condignas; salários justos; previdência social competente e suficiente; comida na mesa de todas as famílias; serviços públicos adequados, eficientes e à disposição de toda a população; sistema político que impeça nele ajam os corruptos. Enfim, um país desenvolvido e cujo desenvolvimento alcance toda a população. Pouco fazemos e perdemos tempo e dinheiro imaginando que investir exclusivamente no sistema policial resolve. Não há criminalidade em altos níveis onde o Estado funciona. E, aqui, não funciona, é ausente e até ajuda a aumentar os problemas.