Desemprego de um dígito

O desemprego no Brasil está em 10,9%. É o que diz o IBGE. Mas, afinal de contas, 10,9% do quê? É da força de trabalho, considerado o número de trabalhadores que estavam empregados e foram despedidos. Não considera os que não trabalhavam e, por necessidade, hoje estão procurando emprego. Nem os que estão tentando adentrar o mercado de trabalho por terem atingido a idade adequada ou foram prematuramente apertados pelas vicissitudes da vida. Ou trabalham ou passam necessidade, pois mesada é coisa para filho de rico. Nem as mulheres que são chamadas a ajudar no orçamento doméstico.

A taxa de desemprego, embora elevadíssima, é uma ficção ou, se nem tanto, pelo menos uma forma de ver o problema olhando do outro lado do binóculo. Ele fica menor, para não dizer pequeno diante da imensidão do drama por que passam os nossos trabalhadores e candidatos a emprego.

O novo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, aquele que cometeu algumas impropriedades com os velhinhos, mandando-os para desnecessárias e penosas filas, ao assumir o novo cargo fez uma promessa. Prometeu que a taxa de desemprego irá para um índice de um dígito ainda no primeiro semestre do corrente ano. Considera a meta realista e que pode “ser facilmente cumprida”.

Pelo sim, pelo não, digamos que está com a razão.

Sua argumentação, entretanto, nos deixa otimistas, embora essa queda para um dígito possa significar muito pouco para um País com um governo que prometia dez milhões de novos empregos. Se o desemprego cair para 9,9%, ainda estará muito alto, mas a promessa de Berzoini terá sido cumprida.

Tenhamos, entretanto, a melhor boa vontade com o novo ministro, pois ele usa argumentação convincente. Em primeiro lugar, não considera que a queda da taxa de juros, sozinha, resolva o problema. Nem que ações do governo sejam suficientes para reduzir substancialmente o desemprego.

Diz ele, e parece que entende do assunto, que para combater este que é o mal maior do País e o problema mais aflitivo do atual governo, é preciso diversas ações, dentre elas os juros mais comportados no mercado e não apenas em relação à taxa Selic. Berzoini pretende dividir o País em regiões e setores econômicos e, de acordo com o diagnóstico que for feito em cada um, fazer com que se aja com estratégias apropriadas.

Em certas regiões e setores, o que se faz necessário é o crédito mais barato, o que pode ser concedido pelos bancos oficiais. Os setores da economia que mais precisam ser estimulados, por serem grandes geradores de empregos, são a indústria moveleira, calçadista e da construção civil. As duas primeiras também porque têm um amplo potencial exportador.

Esse mapeamento do País e de seus setores econômicos é uma excelente idéia, pois o Brasil é gigantesco e, embora tenha problemas sociais e econômicos de cima a baixo, de leste a oeste, bem sabemos que são diferentes. O desemprego é mais agudo num setor do que noutro. E numa região do que noutra.

É preciso, para implantar um programa conseqüente de geração de empregos, ter bem claras essas diferenças, pois elas modificam as fórmulas dos remédios a ser aplicados para a promoção do desenvolvimento.

As palavras de Berzoini, nesta oportunidade em que assume o Ministério do Trabalho, parecem ser de alguém que entende do assunto, que pensa no sentido certo e que não se ilude, como o seu antecessor, com meras mudanças na legislação trabalhista para gerar empregos.

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