Desempregados empresários

Uma multinacional é uma empresa nacional que foi micro, chegou a pequena, depois a média, cresceu até ser uma grande e acabou ultrapassando as fronteiras do país. Pode também ser uma empresa que tem como donos pessoas físicas ou jurídicas de vários países. Há multinacionais brasileiras, poucas, mas significativas. E muitas de países como os Estados Unidos, Holanda, Grã-Bretanha, Suíça e outros países ricos, mesmo que pequenos.

Aqui, temos a tendência de olhar as microempresas com carinho e as pequenas com desvelo, o que não é uma atitude errada, na medida em que possam, com incentivos e apoio governamental, crescer ou, pelo menos, manter-se gerando empregos. Essa posição, entretanto, resulta em parte do equívoco de que as multinacionais devem ser combatidas porque a maioria não é nossa e nos estaria explorando. E porque devemos ter uma espécie de solidariedade de pobres com os pobres. Um povo pobre amando suas pobres pequenas empresas.

Uma micro ou pequena empresa só nos vale na medida em que pode crescer, saindo de sua situação microscópica e passe a gerar empregos. Como na Itália, onde são muitas e responsáveis por um número muito expressivo de postos de trabalho. E a Itália também aparece com destaque entre os países sede de multinacionais.

Esse nosso amor pelas pequenas tem alguma coisa de espírito cristão equivocado. As nossas pequenas empresas, em grande maioria, não crescem e morrem nos dois primeiros anos de existência. Em geral, só têm os sócios, um, dois ou três desempregados que, não encontrando empregos, acabam virando empresários. Só eles trabalham nas suas empresas, não admitindo funcionários, portanto não criando postos de trabalho. Não passam de empregados de si mesmos. E, geralmente, vêem seus sonhos morrerem nos dois primeiros anos de vida da empresa criada fruto do sonho de não mais depender dos patrões, tanto mais que estes não estão oferecendo empregos com facilidade. O desemprego é recorde e nem a propaganda oficial de que se estão criando muitos empregos numa pequena cidade, na “caixa-prego”, desmente esta verdade.

A primeira causa da mortalidade das pequenas é que são pequenas. A segunda, que geralmente são criadas por pessoas sem capital e sem experiência. A terceira, que são fruto não de empreendedorismo sustentado por conhecimentos, mas de sonhos. Sonhos de não mais dependerem de patrões e de crescerem e enriquecerem, trabalhando em ramos que supõem conhecer. Poderíamos acrescentar a concorrência das empresas maiores, organizadas e experientes, e os impostos que, mesmo menores, não perdoam nem as empresas criancinhas.

O IBGE revela que no ano de 2002, das 720 mil empresas criadas no Brasil, 85% não tinham empregados. Eram tocadas exclusivamente pelos seus sócios, desempregados agarrando-se a uma suposta tábua de salvação. Em cada dez empresas abertas naquele ano, seis fecharam, segundo o Cadastro Central de Empresas do IBGE. No período surgiram 720 mil empresas e 461 mil foram extintas. Uma alta taxa de mortalidade.

Não queremos significar, com este comentário, que o governo deve deixar de apoiar as micros e pequenas, mas precisa lutar para que as grandes gerem empregos. E que não surjam mais micros “natimortas”, não gerando empregos, não dando trabalho sequer para seus sócios e nem resolvendo o problema do desemprego, que nos países desenvolvidos é solucionado pelas grandes, em geral sociedades anônimas, que, quanto maiores, melhores.

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