Cada vez que os envolvidos nos escândalos de Brasília – e o próprio presidente Lula – falam do assunto, mais enterram o antigo bom conceito do PT e do governo. A prosseguir tanta insensatez, acabarão sepultados definitivamente, ?ad aeternum?. E, com eles, esperanças de milhões de brasileiros que viram na ascensão à Presidência da República de um trabalhador, depois de tantos governos da elite burguesa que foram incapazes de resolver os graves problemas nacionais, de que, afinal, este País possa dar certo.
O que está se evidenciando é que o PT não é um partido igual aos outros. Mas há quem, analisando os fatos agora descobertos, o considere pior. O Partido dos Trabalhadores, sob a liderança carismática de Lula, representava uma virada de cento e oitenta graus. Um partido de esquerda no governo, coisa que nunca tivemos. Um partido ético no poder, coisa que duvidamos já tenha acontecido no Brasil. Um trabalhador no poder, algo até há pouco inimaginável. E uma agremiação e um candidato a presidente que ofereciam largas promessas de mudanças, o que os distancia ainda mais dos píncaros de sucesso que prometiam. E já nos distancia até do dia-a-dia de eterno esperar por um Brasil melhor, ameaçando-nos com um País ainda pior.
Tenta-se dissociar o PT de Lula, para blindar o presidente, manobra em que estão empenhados não só petistas e aliados, como até fortes facções da oposição. Estão faltando, entretanto, nas desculpas pelo que ocorreu e está sendo revelado, foros de verdade, o que compromete o PT e não consegue blindar Lula. Este, quando tenta transferir toda a responsabilidade para o seu partido, acaba por dar a impressão de que não ignorava o que acontecia. E mostra uma imagem no mínimo de presidente ausente, condescendente ou tapeado por seus próprios pares.
A versão de que não houve mensalão, a compra de aliados e seus votos no Congresso, pode até ser verdadeira, mas a que surge de um empresário mineiro, fazendo em nome de suas empresas gigantescas dívidas em banco, com garantia de contratos de prestação de serviços ao governo, e repassando o dinheiro ao diretório nacional do PT ou a quem por ele, via tesoureiro, eram indicados, é um absurdo ainda maior. Nada justifica que um empresário que não é autoridade pública, nem repartição, nem governo, endivide-se em bancos para sustentar um partido falido, se não tinha a promessa de, em troca, receber contratos milionários do governo e das estatais. Nem santo faz isso. E se os bancos deram o dinheiro, é porque nessas operações existiam gordas garantias que, já está provado, pessoalmente o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza não possuía. Quem as teria posto à disposição? O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, sem o conhecimento da cúpula partidária? Tentou-se essa versão inacreditável, mas tanto Valério quanto Delúbio voltaram atrás e se desmentiram. A cúpula petista sabia, os bancos sabiam, as direções das estatais envolvidas sabiam e Lula nem desconfiava?
Difícil de acreditar. A solução é fazer uma limpa no PT e no governo e, se possível, fazer sobrar pelo menos o próprio Lula, para que não se enterrem de vez as justas esperanças frustradas da nação.