Desburocratização é meta de Gil no Ministério da Cultura

A desburocratização do Ministério da Cultura é a meta imediata dos secretários recentemente empossados por Gilberto Gil. Durante o processo de adaptação, que vem marcando a rotina do ministério desde a posse de Gil, descobriu-se uma série de entraves que dificultam a utilização de um orçamento já apertado.

“Vamos ter de fazer milagres com os recursos previstos para este ano”, comenta o ator e diretor Sérgio Mamberti, secretário de Música e Artes Cênicas. “Assim, é importante uma perfeita integração entre os membros do ministério. E o discurso de posse do Gil já selou nosso compromisso de integração.”

Mamberti garante que a relação já tem sido próxima. Tanto é que uma de suas propostas, a mudança da Funarte do Rio para Brasília, deverá se efetivar com a aprovação de Antônio Grassi, secretário da área que engloba a fundação. “Outra modificação está na sua função: a Funarte tem de se responsabilizar pela operacionalização do processo e não pode competir com outras áreas na análise de projetos”, acredita Mamberti. “Isso provoca uma concorrência desnecessária pelas verbas que já são curtas.”

Mamberti quer integrar também ministérios como o da Educação e da Ação Social nos projetos culturais, uma vez que o orçamento é reduzido. “Isso ficou mais fácil quando houve uma aproximação dos ministros antes do dia da posse do presidente”, conta. “Reunidos no hotel, pudemos debater problemas e encontrar soluções compartilhadas.”

Outro projeto do novo secretário prevê uma revisão nas leis de incentivo, provavelmente a partir de março. É necessário, acredita, a criação de alternativas, pois nem todos os projetos cabem na lei. “O ideal seria uma criação de fundos dos quais participassem a iniciativa privada”, conta Mamberti que, nos últimos meses do ano passado, iniciou a busca de recursos fora do orçamento e conversou com diversos empresários, notando uma grande disposição para participar. “Outra necessidade básica é descentralizar do circuito Rio-São Paulo, criando condições realmente viáveis de aprovação de projetos de outros Estados.”

Para que isso aconteça, é preciso cortar custos costumeiros do ministério. Como os pedidos de políticos para a organização de festas que acabam em si mesmas. “Fiquei surpreso com a quantidade de solicitação de deputados e prefeitos, que esperam uma colaboração do ministério em manifestações que acabam não interessando ao povo.”

Mamberti acredita também no incremento do mecenato, especialmente para a música e a dança, áreas que costumeiramente sofrem com a falta de recursos. Como a máquina não pode parar, o secretário continua com os procedimentos habituais enquanto estuda novas soluções – quando assumiu a secretaria, Mamberti deparou-se com 700 projetos de teatro e 300 de música que esperam uma análise.

Exemplo

“É preciso fazer uma consulta nacional para avaliar as demandas de cada setor, reorganizar a área cultural e buscar parcerias com iniciativas que funcionam bem”, comenta Mamberti, que elogia o Departamento de Cultura do Movimento dos Sem-Terra, o MST. “Eles fazem um trabalho muito eficiente, conseguindo amplos resultados. São manifestações como essas que o ministério tem de apoiar.”

Como sua formação é essencialmente na área teatral, Sérgio Mamberti conhece bem todos os problemas do setor. “O modelo econômico da produção teatral de hoje é muito alto, o que faz com que a bilheteria de uma peça não seja mais receita, mas um ganho eventual”, comenta. A descentralização das produções seria um primeiro passo para baixar custos, assim como é necessária uma política de ingressos que favoreça o acesso popular. “Mas não podemos jogar os custos nas costas dos produtores, pois isso apenas aumenta as dificuldades.”

Uma pesquisa mais profunda na área permitirá, segundo o secretário, apontar alternativas que permitam até mesmo a diminuição dos custos com viagens, permitindo que diversos espetáculos sejam apresentados em vários municípios.

A Secretaria da Música e Artes Cênicas pretende também continuar investindo em novos dramaturgos, mas, segundo Mamberti, esse tipo de ação precisa ser conjugado com outros para que haja um impacto efetivo na sociedade.

Para conseguir colocar em prática seus planos, Mamberti conta, além do apoio dos outros secretários, também com o secretário-executivo Juca Ferreira, o segundo nome mais importante do ministério. “Ele ouve atentamente as propostas e vem estudando os meios mais adequados para colocá-las em prática.”

Sérgio Mamberti conta que, aos poucos, vem se acostumando à rotina de secretário. Quando tomou posse, descobriu que dispunha de 56 funcionários. Espantado com o número, fez uma convocação geral no primeiro dia de trabalho. “Diante de todos, eu disse que nossa proposta visava a mudanças e não mais cuidar de uma tarefa burocrática”, lembra. “Afirmei também que todos deveriam participar das decisões, oferecendo críticas e sugestões.”

Apesar da busca pela eliminação da burocracia, alguns hábitos, porém, estão arraigados na secretaria, como em qualquer repartição do governo. Mamberti diverte-se ao lembrar a insistência com que lhe é servido café, além do ligeiro incômodo que lhe causa ser chamado de “secretário”. “São situações inofensivas e até divertidas, mas gosto de deixar claro que o momento é outro. Afinal, é a primeira vez que trabalhadores da cultura estão mandando no ministério.”

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