São Paulo – O resultado da balança comercial anunciado ontem pelo ministro Luiz Fernando Furlan já era esperado, mas a projeção de incremento de 11,6% nas vendas externas em 2006, para US$ 132 bilhões, não parece tão factível. Segundo o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio de Almeida, é a sustentabilidade do crescimento das vendas externas que preocupa e pode atrapalhar a projeção.
Em termos de tendências, os produtos manufaturados são a categoria que mais vê o sinal amarelo. As vendas externas desses produtos cresceram em linha com a média brasileira (23% sobre 2004) e contribuíram com 55% para o aumento total das exportações do País.
No entanto, essa mesma categoria registrou uma desaceleração forte de crescimento no segundo semestre deste ano: nos primeiros seis meses de 2005, a alta média das exportações de manufaturados foi de 30,4% sobre o mesmo período de 2004, caindo para 17,4% na última metade do ano. "Como se trata de uma categoria de produtos muito afetada pelo câmbio, essa desaceleração deve ser levada em conta, pois deprime a expectativa de crescimento das exportações de manufaturados em 2006, dada a alta valorização do real", afirmou o executivo.
Gomes de Almeida acredita que a continuidade de intervenções efetivas no mercado cambial e as reduções mais fortes da taxa de juros básica seriam o melhor antídoto contra este tipo de risco sobre as exportações.
O Iedi também atribui à apreciação do real a desaceleração das exportações do País para União Européia e Estados Unidos, que juntos absorveram 42% das exportações brasileiras no ano passado. As vendas para esses destinos aumentaram 10,1% e 12,2%, respectivamente, cerca de metade da média de crescimento das exportações brasileiras totais. "A correção do câmbio aliada a novas tentativas de ampliação do acesso de produtos brasileiros a esses mercados fundamentais seria de vital importância para que a desaceleração de 2005 não se repita em 2006", completou o diretor do Iedi.