Derrota para Holanda evidencia os principais erros do Brasil

Fabrice Coffrini/AFP

Apesar do discurso de confiança absoluta do técnico Dunga nos 23 jogadores convocados para a Copa do Mundo e as garantias de que os atletas estavam tranquilos e conscientes do que representa um Mundial, a derrota de 2-1 para a Holanda nas quartas de final deixou claro alguns problemas da equipe.

Do regime ultrafechado adotado por Dunga na concetração, passando pela falta de jogadores criativos e da presença de atletas que disputaram a Copa sem condições físicas plenas, até o nervosismo da equipe e a relação conturbada com a imprensa, muitos fatores podem ser apontados como parte da culpa da eliminação prematura do Brasil.

O técnico da seleção ressaltou durante toda a preparação para a Copa, iniciada em 21 de maio em Curitiba, o comprometimento dos jogadores com a seleção e já na África do Sul destacou a maturidade do grupo.

Mas o segundo tempo do jogo contra a Holanda evidenciou o nervosismo dos brasileiros após o gol contra de Felipe Melo, que empatou a partida. Robinho passou a discutir com o árbitro japonês Yuichi Nishimura e com os adversários, Luís Fabiano sumiu do jogo e o desespero tomou conta de todo o time.

Felipe Melo representa um capítulo à parte, já que era considerado o homem de confiança de Dunga no meio. Recuperado de uma torção no tornozelo esquerdo, o volante foi confirmado na partida apenas algumas horas antes do início do jogo, e teve grande atuação no primeiro tempo, dando passe perfeito para o gol de Robinho, mas no segundo tempo foi o grande vilão da eliminação: fez um gol contra e foi expulso três minutos após o gol da virada holandesa, marcado por Sneijder, ao fazer uma falta em Robben e depois chutar o adversário ainda no chão.

Outro problema de Dunga foi o banco de reservas. Como convocou volantes em excesso, na partida de sexta-feira, disputada em Port Elizabeth, mesmo com o Brasil atrás no placar, ele não fez as três substituições possíveis. Trocou Michel Bastos por Gilberto, por temer uma expulsão do lateral titular, e Luís Fabiano por Nilmar.

A atitude representa uma contradição ao discurso de que confiava em todos os jogadores presentes na África do Sul.

Outra coisa que também ficou evidente na derrota para a Holanda foi que a aposta em jogadores que se recuperaram de lesões nos últimos meses não deu certo: Kaká, que teve dores no púbis e uma lesão muscular no fim da temporada europeia pelo Real Madrid, admitiu que jogou a Copa longe das condições ideais; Luís Fabiano também não rendeu o esperado.

A até então badalada defesa do Brasil, principalmente o goleiro Julio Cesar e os zagueiros Lúcio e Juan, considerada por muitos a melhor do mundo, também sucumbiu na Copa: sofreu gols nos últimos minutos contra a Coreia do Norte (2-1) e a Costa do Marfim (3-1) por absoluta desatenção.

Contra a Holanda a atuação fraca na etapa final foi comprometedora: o camisa 1 falhou no gol contra de Felipe Melo ao sair muito mal da meta e a zaga ficou apenas olhando o baixinho Sneijder cabecear sozinho para fazer o segundo gol holandês.

Para completar, o regime fechado e de isolamento, quase militar, adotado por Dunga acabou se mostrando ineficiente para garantir o título. Aparentemente, a comissão técnica e os jogadores acreditaram que apenas a convicção da vitória e o discurso do grupo fechado e comprometido seria o suficiente para garantir o hexa.

As alfinetadas do técnico contra a imprensa, que teve acesso restrito aos treinos e aos atletas, também não forneceram um estímulo extra à equipe, como supostamente imaginava Dunga.

Agora, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deve escolher um novo técnico e pensar em uma nova linha de trabalho para 2014, quando o Brasil será o anfitrião da Copa e o país tentará conquistar o tão sonhado hexa, mas com uma pressão ainda maior.

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