A audiência realizada nesta quarta-feira (13) na Câmara dos Deputados, para avaliar os problemas da aviação civil, funcionou como uma sessão de desagravo ao ministro da Defesa, Waldir Pires, e, ao mesmo tempo de condenação à má gestão do setor de tráfego aéreo pela Aeronáutica, que foi comandado, nos últimos quatro anos, pelo brigadeiro Luiz Carlos Bueno.
Ao defender Pires, sobraram duras críticas para o ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, que, em relatório considerado "leviano" e "precipitado" atribuiu o caos aéreo à falta de planejamento por parte do governo e aos cortes orçamentários dos últimos três anos.
"A sua história não será manchada por estes problemas no setor aéreo", declarou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que passou a atacar, indiretamente a Aeronáutica. "Há uma falta de planejamento estatal que indica que houve até mesmo prevaricação", acusou o parlamentar, acrescentando que "está na cara que o governo não fez previsibilidade para as necessidade do setor, que já vinha operando fora do padrão há muito tempo, com muitos registros de quase acidentes".
Para ele, o acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy, no dia 29 de setembro, matando 154 pessoas, foi "fruto de uma sucessão de falhas", reflexo dos problemas que existiam há muito tempo como os radares com duplicidades de alvos e sumindo da tela, equipamentos de rádio comunicação que falham ou não funcionam, defeitos que eram reclamados pelos controladores, conforme os registros, mas nunca corrigidos pela Força Aérea.
A defesa mais contundente de Waldir Pires foi feita pelo deputado Alceu Collares (PDT-RS), que preside a comissão que avalia a crise no setor aéreo na Câmara. "As manifestações contra o ministro Waldir Pires não foram justas", disse ele. "Quero aqui deixar, de público, o meu desagrado com o documento do tribunal, feito em apenas 24 horas e que usa de leviandade, colocando mais gasolina na fogueira". Para ele, um representante de órgão vinculado ao Parlamento, como o TCU, não podia fazer ataques ao ministros com "palavras que não foram adequadas", "com falta de boas maneiras na colocação e no relacionamento de um órgão vinculado a parlamento brasileiro".
O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, Jorge Carlos Botelho, chegou a desmentir publicamente o comandante da Aeronáutica, ao falar sobre a falta de solução para os problemas nos equipamentos apresentados pelos controladores. "Contesto que não havia panes antes", declarou Botelho, relatando outras oportunidades que o mesmo defeito em rádio comunicação entre controladores e pilotos ocorreu com o equipamento italiano da Sitti, lembrando um fato ocorrido em maio do ano passado. "Até hoje tem problema relacionado com coisas que denunciamos em 1994 e ainda nada foi feito", desabafou, acrescentando que "a nossa maior mágoa é que sempre advertimos e nunca ouviram as nossas queixas".
O ministro da Defesa lembrou que está há sete meses e pouco no Ministério, que os problemas são antigos, mas que as medida estão sendo tomadas. Bueno, por sua vez, na apresentação que fez falou de medidas adotadas, mas reconheceu que todas foram depois do acidente entre o Boeing e o Legacy. Ressaltou, no entanto, que o departamento de controle aéreo da Aeronáutica faz planejamentos a curto, médio e longos prazos (de cinco a 25 anos), mas não explicou porque nenhum destes planos previa problemas nos equipamentos ou falta de pessoal. Por fim, Bueno declarou que iria reduzir, de seis, para três anos, o prazo de revisão dos equipamentos de áudio que ficaram mudos na semana passada. O único a sair em defesa de Bueno foi o ministro Waldir Pires alegando que "o comandante da Aeronáutica administra a força com competência".