Brasília (AE) – Com xingamentos, acusações, gritos e até agressões físicas, governistas e oposicionistas enfrentaram-se hoje (21) no depoimento do banqueiro Daniel Dantas, no plenário 2 da Câmara dos Deputados. No momento mais tenso, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e o deputado João Fontes (PDT-SE), expulsos do PT em dezembro de 2003, trocaram empurrões com o deputado petista Eduardo Valverde (RO). A sessão teve de ser suspensa por 15 minutos.
Diante do comentário de Valverde de que "toda acusação ao PT terá resposta", Fontes atacou: "Cala a boca, seu partido é corrupto, não pode falar!" Valverde se irritou e devolveu: "Deviam ter sido expulsos mesmo do PT!" Foi então que Heloísa Helena reagiu, exigindo respeito, com a caneta apontada para o rosto do petista. Valverde relembrou o episódio em que Heloísa Helena foi suspeita de ter votado contra a cassação do mandato do ex-senador Luiz Estêvão (PMDB-DF).
"Ele disse que eu transava com o Luiz Estêvão. Eu tive que dizer que ele (Valverde) está envolvido em pedofilia, em rede de prostituição, em roubo no ramo de transporte público", disse Heloísa Helena. Em alguns momentos, o banqueiro Daniel Dantas chegou a rir da situação que presenciava.
Valverde prometeu denunciar os dois parlamentares ao Conselho de Ética, pedindo abertura de processo por falta de decoro. "Ela quase furou meu olho!", reclamou o petista, em referência à caneta que a senadora lhe apontou.
O confronto seguiu script imutável ao longo de todo o depoimento. Governistas insistiam em dizer que Daniel Dantas reclamava do governo Lula por não ter benefícios obtidos no governo FHC, principalmente na privatização das companhias telefônicas. Tucanos e outros oposicionistas contra-atacavam dizendo que os petistas tentam encobrir a corrupção no atual governo.
Quando o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) defendeu que a CPI pedisse informações sobre uma viagem do filho do presidente Lula ao Japão, com parte das despesas pagas pela empresa Brasil Telecom, o deputado petista Fernando Ferro (PE), gritou: "Investiga o filho do Fernando Henrique também!" Nova confusão instalou-se na sala.
Horas antes, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) tinha iniciado a sessão de confrontos ao citar uma série de processos em que Daniel Dantas é réu: "Recebi um documento da Associação Nacional dos Participantes de Fundo de Pensão com muitas denúncias. Se 10% (das denúncias) forem comprovadas, o senhor Daniel Dantas deveria estar preso há muito tempo." Mais tarde, a senadora petista afirmou que o banqueiro, se fossem comprovadas denúncias contra ele, estaria no caminho para ser chamado de "o maior corruptor do País".
A deputada tucana Zulaiê Cobra (SP) protestou. "O depoente está sendo desrespeitado. Nós não desrespeitamos o José Dirceu quando veio à CPI. Eu tinha um monte de coisa que queria falar para ele, mas não falei", argumentou Zulaiê.
Com a presença do sócio Carlos Rotemburg e da irmã, Verônica, na platéia, Daniel Dantas procurou manter a calma. Quando não estava rindo da gritaria dos parlamentares, apenas observa a cena e aguardava que os ânimos parlamentares serenassem. Ao contrário de muitos dos convocados a depor nas CPIs, o banqueiro não pediu respeito, não deu nenhuma resposta atravessada, nem se disse injustiçado. "Se me derem tempo, posso esclarecer a situação", foi a sua resposta-padrão.