O deputado Luiz Couto (PT-PB) investigou durante dois anos a ação de grupos de extermínio no Nordeste, como relator da Comissão Parlamentar de Inquérito que buscou esclarecer execuções e chacinas na região. Desde então, anda acompanhado por pelo menos dois policiais federais. Padre, ele passou a rezar missas em João Pessoa com agentes da PF ao seu lado, próximos do altar. As ligações com ameaças e tentativas de emboscada são freqüentes.
"Soube outro dia que a minha cabeça vale R$ 40 mil", conta Luiz Couto, que não pretende se candidatar nas próximas eleições por receio de sofrer um atentado durante os comícios e colocar em risco a vida de outras pessoas. "Um matador preso chegou a citar matadores que receberam propostas para me executar e só não aceitaram porque eu sou padre. Mas ele disse que não devo ficar tranqüilo com isso. Nem todos seguem esse princípio."
O parlamentar paraibano também já recebeu denúncias sobre policiais que estariam planejando sua execução. Durante as investigações, a CPI dos grupos de extermínio constatou que as chacinas, em geral, contam com a participação de policiais. No Brasil, 80% dos crimes promovidos pelos grupos de extermínio têm a participação de policiais ou ex-policiais, conforme dados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa da Bahia. Há ainda indícios de participação de juízes e políticos na rede de proteção aos matadores.
Entre as recomendações contidas no relatório da CPI sobre grupos de extermínio está a aprovação, pelo Congresso, de um projeto de lei que tipifique o crime de extermínio. Muitos estados atualmente não reconhecem sequer a existência de chacinas. No Código Penal, não há punição específica prevista para mandantes de execuções. Pelo projeto proposto pela CPI ? ainda em fase inicial de tramitação – funcionários públicos envolvidos com execuções teriam penas mais acentuadas e prioridade no julgamento.
"São eles que paralisam as investigações e impedem que os criminosos sejam identificados e punidos. Isso ficou muito claro nas investigações da CPI", denuncia o deputado Luiz Couto. De acordo com ele, os antigos pistoleiros e matadores de aluguel hoje se articulam em milícias armadas do crime organizado, com protetores para impedir que o crime seja revelado: "A tese de que os criminosos se beneficiam do estado ausente foi derrubada. O que existe é o estado transversal. Há impunidade porque os assassinos então dentro do próprio poder público."