O presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado Nárcio Rodrigues, afirmou hoje que o partido nunca soube dos repasses de dinheiro das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para a campanha de reeleição do presidente nacional da legenda, senador Eduardo Azeredo (MG), a governador, em 1998.
Rodrigues deixou a responsabilidade para o ex-tesoureiro da campanha Cláudio Mourão e ao vice-governador Clésio Andrade (PL), apontados por Valério na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão, nesta terça-feira, como os autores do pedido de ajuda financeira à coligação. Repetindo o argumento mais usado pelos tucanos nos últimos dias, o presidente do PSDB de Minas Gerais disse que há uma tentativa de desviar o foco das investigações que envolvem o PT.
Rodrigues sustenta que Azeredo e os dirigentes da sigla ignoravam o movimento de Andrade – então candidato do PFL a vice-governador na chapa do atual presidente nacional do PSDB e que havia deixado a sociedade nas agências de publicidade SMP&B Comunicação e DNA Propaganda – e Mourão em busca do dinheiro do empresário.
"Estamos seguros e tranqüilos em relação a isso. Não há uma digital que envolva o PSDB nesse processo. Mourão era tesoureiro da campanha, não era (tesoureiro) do partido. Não foi colocado dinheiro na conta do PSDB. O partido não avalizou ninguém", disse Rodrigues.
No entanto, ele reconheceu que o ex-tesoureiro da campanha era filiado à agremiação e que a representava na coligação por indicação de Azeredo.
Desespero
Rodrigues disse que os repasses de pelo menos R$ 1,8 milhão para a candidatura do presidente nacional tucano aconteceram no contexto de uma "tentativa quase desesperada de reverter um quadro que era desfavorável para a campanha de Azeredo contra o ex-presidente Itamar Franco".
Para o presidente do PSDB mineiro, o presidente nacional tucano "tinha tudo para não saber" a origem dos recursos da campanha, uma vez que acumulava a agenda de candidato com a de governador (ele não deixou do cargo para disputar a eleição). Por isso, segundo Rodrigues, Azeredo delegou a tarefa de arrecadar a um grupo, do qual faziam parte Mourão e o vice-governador de Minas Gerais, que se ocupava da estratégia da campanha, não de questões partidárias.
"Se isso tudo tiver sido feito, estamos diante de um crime eleitoral já prescrito", afirmou o presidente tucano mineiro, que não soube explicar como Azeredo diz só ter tomado conhecimento dos empréstimos, recentemente, pela imprensa, se era processado pelo ex-tesoureiro de campanha pelas dívidas. Mourão desistiu da ação no dia 3, depois da ida do presidente nacional tucano à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "Eu não sei, aí ele tem de explicar."
Intenções
Apesar de responsabilizar o ex-tesoureiro, Rodrigues afirmou que não o condenará. O deputado do PSDB de Minas Gerais disse que Mourão "merece o nosso respeito em Minas" e que acredita que ele agiu "com boas intenções".
Rodrigues negou ter tido contato com ele, recentemente, mas disse crer que ele, "certamente, vai aparecer". Mourão foi convocado a prestar esclarecimentos à CPI dos Correios.