Brasília (AE) – A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) confirmou hoje (22), em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, que o deputado Sandro Mabel (PL-GO) ofereceu R$ 30 mil por mês mais bônus de R$ 1 milhão no final do ano para ela trocar o PSDB pelo PL, conforme antecipou a Agência Estado no início deste mês. O relato da deputada, que atualmente está licenciada do mandato e ocupa o cargo de secretária de Ciência e Tecnologia do governo de Goiás, reforça as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre a existência de um esquema de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo.
Durante as quase três horas de depoimento, Raquel Teixeira explicou os detalhes da conversa com Mabel, disse o dia e o local em que ela teria acontecido, se dispôs a reafirmar tudo na frente do deputado e contou também que foi procurada por uma pessoa do Palácio do Planalto, após seu nome ter sido divulgado na imprensa como um dos parlamentares assediados para recebimento do mensalão.
"Houve um telefonema do Palácio do Planalto para a secretaria de Ciência e Tecnologia. Eu disse para minha secretária que não atenderia ninguém naquele dia", afirmou, ao ser questionada pelo relator Jairo Carneiro (PFL-BA) se teria sido procurada por alguém do governo. Raquel Teixeira disse desconhecer o nome da pessoa que lhe procurou, mas prometeu atender o pedido dos deputados para que sua assessora confirme quem fez a ligação.
No dia 8 de junho, dois dias após o governador de Goiás, Marconi Perillo, afirmar que havia informado o presidente Lula de que dois parlamentares do PSDB goiano tinham sido assediados, a Agência Estado antecipou que um dos nomes era o de Raquel Teixeira. No dia seguinte, ela viajou com a comitiva do governador para Paris, só retornando na semana passada. A ligação do interlocutor do Palácio do Planalto, de acordo com a deputada, ocorreu antes de ela embarcar para capital francesa.
No depoimento no Conselho de Ética, Raquel Teixeira disse que Sandro Mabel a procurou no dia 18 de fevereiro do ano passado. Os dois se encontraram no plenário 16 da Câmara, após uma reunião do comitê da reforma tributária. Mabel, que na época ainda não era ainda líder do partido, teria convidado Teixeira para ir para o PL, alegando que a legenda estava tentando preencher uma lacuna, que havia se distanciado da área de educação. A conversa, disse, começou com tom de elogio e, somente no final, foi feita a oferta financeira.
"Sandro não era líder e fez a seguinte colocação: o PL quer se repaginar e ter uma cara nova. Temos que ter uma mulher, mas não qualquer mulher. Queremos uma que faça diferença", contou.
Em seguida, Mabel disse que indo para o PL, Raquel Teixeira, que tem formação na área de educação, "viajaria pelo Brasil adequando a educação ao perfil do PL". Depois de lhe fazer sentir bastante lisonjeada, contou a deputada, "veio a oferta de R$ 30 mil por mês mais R$ 1 milhão e, dependendo do acerto, o valor poderia chegar a R$ 50 mil". Na hora, ela disse que ficou chocada e sem reação. "Fiquei indignada.
Não perguntei mais nada e a conversa encerrou aí. Entendi que o caminho apropriado era me aconselhar com o governador Marconi Perillo", disse, ressaltando que nunca tinha ouvido falar da existência de "mensalão" na Câmara.
Em diversos momentos do depoimento, Raquel ressaltou que não deu publicidade ao caso na época porque não tinha provas nem testemunhas e ficaria a palavra dela contra a de Mabel. "Agora, o Roberto Jefferson fez a diferença. Hoje, não sou acusadora. Sou testemunha. Venho contar o que vivi. Sou uma peça para ajudar a montar um quebra-cabeça maior", argumentou.
O PL montou um esquema para tentar desqualificar as afirmações da deputada e insinuar que há um complô para prejudicar a candidatura de Mabel ao governo de Goiás. Sandro Mabel não compareceu ao plenário do Conselho durante o depoimento de Teixeira. No entanto, sua assessoria o informava de tudo e o colocava em contato com deputados do partido que estavam presentes ao depoimento. "Há um complô para desgastar os que fazem oposição e querem se lançar candidato", disse o deputado José Carlos Araújo (PL) que falou em nome da liderança do partido.
"Não há complô para desgastar ninguém. O senhor acha que gosto de estar aqui? Ele (Mabel) me forçou a estar aqui. Desafio a qualquer um a provar que queria aparecer nos jornais. Preferi me calar. Porque inventaria uma história dessa envolvendo o Mabel e não do Casagrande, que me convidou para ir para o PSB? Porque os termos da oferta foram diferentes", afirmou, se referindo ao deputado Renato Casagrande que a teria convidado para ingressar no PSB, mas sem proposta financeira.
A estratégia do PL incluiu também insinuações de que a deputada favoreceu o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ao assinar um licença para ele se mantivesse afastado das suas funções de professor da rede pública de Goiás para ocupar função como dirigente sindical. Segundo Raquel, no entanto, essa autorização é prevista em lei e concedida em 1990 antes dela assumir a secretaria de Educação de Goiás, em 1999.
Outro momento de provocação foi quando o deputado José Carlos Araújo disse que se ela se julga tão ética não deveria ocupar até hoje um apartamento funcional. Segundo Raquel, o imóvel foi desocupado na semana passada porque o marido dela ainda estava transferindo seus negócios de Brasília para Goiânia. "Não queria trazer minha vida pessoal para cá. Não sou a primeira nem a única a ficar um tempo a mais no apartamento".
Mabel nega ter feito oferta financeira para secretária
Brasília (AE) – O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO),
negou hoje ter feito oferta financeira para que a secretária de Ciência
e Tecnologia de Goiás, Raquel Teixeira, trocasse o PSDB pelo PL e
rechaçou ainda as acusações do presidente nacional licenciado do PTB,
deputado Roberto Jefferson (RJ) de que, junto com os deputados Pedro
Henry (PP-MT) e Bispo Rodrigues (PL-RJ) e o líder do PP na Casa, José
Janene (PR), era responsável pela distribuição do "mensalão" para
parlamentares apoiarem o governo. "Nunca ouvi falar em esquema de
‘mensalão’ no nosso partido. No PL, isso nunca existiu", afirmou. Ao
depor no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, Mabel disse
que ouviu as expressões "mesada" e "compra de votos" algumas vezes, mas
durante as discussões para aprovação da emenda que assegurou a
reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o deputado, o depoimento de Raquel foi uma forma de
respaldar as afirmações feitas pelo governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB), uma vez que ela é do núcleo político dele.
Mabel confirmou que conversou com Raquel sobre a possibilidade de
ela ingressar no PL. No entanto, disse que não ofereceu dinheiro.
Segundo Mabel, ele teria sido procurado pela deputada, que estaria
insatisfeita no PSDB e queria mais espaço em outra sigla. "Se ela
viesse para o PL, viria para a base do governo", disse, ressaltando
que, dessa forma, ela teria a vantagem de conseguir empenhar verbas do
orçamento para emendas de interesse do Estado dela. Mas enfatizou que
isso não foi uma oferta financeira. Mabel se mostrou indignado com as
acusações no plenário do conselho e voltou a insistir que o esquema do
"mensalão" é inviável financeiramente para qualquer partido. "Não sei
onde vai existir um partido com 53 deputados que tenha R$ 1 milhão para
oferecer a cada parlamentar", argumentou, fazendo menção ao suposto
bônus de R$ 1 milhão que Raquel disse que ele teria lhe oferecido além
da mesada de R$ 30 mil.
"Com R$ 1 milhão dá para comprar 50 carros zero-quilômetro", disse,
observando que convidou até nove deputados para que entrassem no PL.
"Nunca houve oferta financeira."
O deputado deu uma nova versão à história de Raquel dizendo que
soube por um amigo que a conversa entre eles havia chegado ao ouvido de
Perillo. Segundo Mabel, no entanto, a história foi contada de forma
diferente e a deputada teria dito que ele fez uma oferta em dinheiro.
"Quando soube que o governador estava uma onça comigo, fui falar com
ele. Foi quando soube que Raquel tinha dito sobre uma proposta
financeira, que não aceito e não fiz", afirmou.
Se dizendo indignado, contou que propôs a Perillo que fizesse uma
acareação com Raquel. "Eu insisti: quero que chame ela aqui agora para
tirar isso a limpo." Perillo, porém, segundo Mabel, teria dito que não
era necessário e o assunto encerrou aí. Durante o depoimento, Mabel
disse que, quando a história começou a ser comentada entre os
parlamentares de Goiás, ele foi procurado pelo deputado Carlos Alberto
Leréia (PSDB). "Assim como Leréia disse, ontem (21), ele, realmente,
procurou-me para confirmar se eu havia feito a proposta. Ele pediu que
repetisse a proposta que Raquel havia contado porque ele assinaria a
ficha na hora. Depois, disse que estava apenas brincando."
Mabel disse ainda que não conhece o publicitário Marcos Valério de
Souza, acusado de ser o operador do esquema da mesada. Já sobre o
tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, o deputado admitiu ter se
relacionado com ele no segundo turno da campanha para prefeitura de
Goiânia, em 2004, quando PT e PL se aliaram. "Nunca os vi no Palácio do
Planalto", disse, referindo-se aos dois.