Departamento de futricas

O presidente do PT, José Genoino, atribui a um hipotético “departamento de futricas” tudo o que acontece de ruim em Brasília ou azeda as esperanças dos brasileiros. A começar pelas informações que espelham as indecisões do governo, até aquelas que “demitem” personalidades que integram o próprio governo – como no caso do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na semana que passou -, tudo deve ser debitado a esse “departamento de futricas” que, à solta e “ensandecido”, tem até dia marcado para despejar no circuito nervoso da política nacional seus venenos e maldades: cuidem-se das quartas-feiras.

Por conta desse departamento, que ninguém sabe quem comanda nem quem o integra exatamente (seriam todos “especialistas, curiosos, especuladores e borboleteiros”), sobem as taxas cambiais, disparam as bolsas de valores, escorregam os índices do risco-Brasil, ampliam-se os contingenciamentos orçamentários, fritam-se personalidades e, além de outras maldades, coloca-se o governo em polvorosa no Planalto (e também os súditos, na planície) a correr atrás de “fumaça de palco de show de rock” – um gelo seco.

A atividade desse pessoal sem nome e sem rosto irrita. Motivou até outra escorregadela imprópria e imperdoável do presidente Lula, na quinta-feira, quando ele mandou uma repórter que lhe questionava sobre o nervosismo dos mercados calar a boca. “Por que você não ocupa sua boca com uma castanha?”, perguntou o presidente. Lula, em vez de dizer o que os outros devem fazer, bem que podia aproveitar a oportunidade para neutralizar a boataria. Visivelmente emparedado, ironizou meio sem graça: “O mercado está nervoso? Eu estou calmo…”. Mas ainda na Índia, teve que pedir desculpas aos empresários para, dois passos à frente, meter água fria no debate sobre a autonomia do Banco Central – um tema para desocupados.

Sua fictícia calmaria, entretanto, não é suficiente para irradiar a tranqüilidade que gostaria inundasse o País. Não consegue sequer encher os escuros cantos de Brasília, maioria situados na Praça dos Três Poderes. Ademais, quando a safra vai bem, faltam estradas para o escoamento e há espera no porto. Quando lá fora as notícias são boas, aqui dentro as filas da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e do desemprego estragam tudo. Depois vêm os descendentes indígenas preparados para a guerra imitar os sem terra… Até a chuva, sempre escassa no Nordeste, distribui desgraça e obriga o governo a uma ginástica à qual seus principais agentes não estão habituados.

Ainda aprendiz, o governo tenta apurar a origem da má boataria. Arrisca um palpite, mas não enxerga que o foco principal está em suas próprias entranhas. Entre o ministro Antônio Palocci, sua equipe e o superministro José Dirceu, além do poço de vaidades existe mais que simples divergências, exploradas milimetricamente pelos radicais de sempre – não dos expulsos, mas dos que remanescem à sombra de um poder que, em vão, sonhou ser monolítico. A oposição está fora disso, não consegue enxergar nem o fracasso do programa Fome Zero. É, também, aprendiz. Até porque, segundo o próprio Genoino, ninguém nessa área sempre paludosa e difícil consegue a maestria do velho PT de guerra, hoje governo.

Pela primeira vez, então, se descobre que o governo do PT está perdendo a guerra da informação para sua própria gente. Foi valente na fase de arquitetar o castelo das esperanças, mas com quase trinta ministérios em ação não consegue neutralizar o que vem desse “departamento de futricas” instalado, não se sabe, em que parte subterrânea do poder central. E pensar que dali deveriam estar partindo as ordens de regência do espetáculo do crescimento prometido desde o primeiro dia de governo, mas que ficou para a segunda metade do ano, depois para o ano novo… agora para depois do Carnaval. O governo do PT, preocupado em ampliar seus tentáculos nesta fase outra vez eleitoreira, está perdendo para o próprio PT.

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