Ao depor nesta quarta-feira na CPI dos Bingos, o empresário apontado como chefe do esquema de manipulação de resultados no futebol, Nagib Fayad, conhecido por Gibão, disse suspeitar que foi fabricado o resultado do jogo do Campeonato Brasileiro entre Botafogo e Juventude, vencido pelo time carioca por 3 a 2, no dia 11 de junho, no Rio. Ele não entrou na lista dos que foram anulados pelo Superior Tribunal da Justiça Desportiva (STJD) por terem os resultados supostamente manipulados.
Gibão disse que no dia da partida, em 11 de junho último o principal envolvido na máfia do apito, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, lhe telefonou sugerindo: "Nagib, jogue nesse jogo que vai ser apitado no Rio. É certeza que o time do Rio vai ganhar e você me dá uma comissão".
Mais na frente no depoimento, ele disse ter ouvido ainda de Edílson a informação de que "o Bota vai ser protegido, jogue nesse jogo, é certeza que esse time carioca vai ganhar".
Nagib disse que Edílson não falou o nome do juiz. O Botafogo foi mesmo o vencedor da partida, apitada pelo árbitro da Fifa Heber Roberto Lopes. O noticiário do dia apontou a "espetacular virada do time carioca, com a marcação de dois pênaltis, após estar perdendo por 2 a 0 até os 17 minutos do segundo tempo".
Ao relatar o fato, Gibão disse que a sua intenção era a de mostrar que o STJD errou ao anular os 11 jogos do Brasileiro, porque não acredita que Edílson Pereira de Carvalho fabricasse resultados. "Hoje eu vejo que ele era um enganador, fazia jogo duplo, ganhava qualquer que fosse o resultado", afirmou o empresário, referindo-se à suspeita de que o árbitro "vendia" resultados diferentes para pessoas diferentes. Como prova de que sempre haveria alguém para pagar pelo "palpite", qualquer que fosse o resultado, lembrou que não há nenhum empate nos jogos apitados por ele.
Aparentemente orientado por advogados, Nagib Fayad tentou transformar seu depoimento numa peça de defesa. O mote principal era o de se posicionar como alguém que se deixou levar pela vício compulsivo de jogar e não como o empresário que burlou todas as regras para faturar ilegalmente com o futebol.
"Por causa do meu vício, estou pagando caro, acho que vou procurar um tratamento, foi sinal de fraqueza, na minha compulsividade, eu errei", afirmou. Gibão referia-se a si mesmo sempre na terceira pessoa.
Ele disse ter aceito apenas dois dos seis jogos que Edílson se ofereceu para fabricar o resultado. Seus sigilos bancário, fiscal e telefônico foram quebrados pela CPI.
Disse também ter ouvido de Edílson a informação de que o "juiz que não se comportasse bem, ficava 3 ou 4 jogos sem apitar". Quando questionado para dar mais explicações sobre esse tipo de pressão, limitou-se a dizer que tinha ouvido a declaração do árbitro na imprensa e não diretamente.