Na cara dura

Dentro do estádio não pode cerveja, mas fora a ‘bera’ corre solta

Horas antes do clássico de domingo, uma cena muito comum vista nos arredores do Couto Pereira foi o intenso consumo e venda de bebidas alcoólicas, sem qualquer tipo de proibição ou problemas com a polícia. Mas claro que isto virou tema entre os torcedores. Afinal, menos de uma semana atrás a Câmara de Vereadores não aprovou a lei que liberava o consumo da cerveja dentro dos estádios.

“Se não liberam lá dentro, todo mundo traz de casa ou compra com os camelôs que ficam por aqui. Se o cara quer fazer coisa errada, não é por causa da cerveja. Ele já sai com essa intenção de casa”, defende o serralheiro coxa-branca Élton Cordeiro, de 23 anos.

Mesma opinião do atleticano Érico Fontoura, 27 anos, que entende que a decisão dos vereadores pune a maioria dos torcedores por causa dos atos injustificados de uma minoria violenta. “Não faz diferença algum tomar fora ou dentro. É uma questão política. Mais da metade dos vereadores mudarem de voto, foi uma sacanagem”, reclama o administrador de empresas.

O juiz de direito Peterson Santos, 42 anos, por outro lado, apoiou a decisão dos vereadores. Para Santos, o principal problema da liberação é a possibilidade de torcedores deixarem os estádios e dirigirem embriagados. “Bebida alcoólica gera o perigo de delitos, o principal deles é a embriaguez ao volante”, argumenta.

Mesma opinião do advogado José Vasco, 58 anos, que vai além. Vasco defende que, se a bebida é proibida dentro dos estádios, deveria ser proibida também em seu entorno. “Ou libera tudo ou proíbe tudo. Da forma que é hoje, o pessoal já entra embriagado no estádio”, analisa.

Lucro certo

E de fato o consumo e venda fora do Couto Pereira chamava a atenção. A três quadras do estádio começavam a surgir os primeiros vendedores ambulantes, comercializando cerveja em isopores. Nas ruas mais próximas, os bares estavam abarrotados de gente, que precisavam disputar espaço nas filas para obter o líquido.

A venda de bebidas alcoólicas fez a alegria dos ambulantes, que chegam a lucrar cinco vezes mais em dia de clássico. “Em um jogo normal dá pra lucrar R$ 300. Hoje, a expectativa é de mais de R$ 1.000 de lucro”, comemora uma vendedora não-licenciada que prefere não se identificar.

“Temos de ficar atentos com a fiscalização. A polícia em si não pode fazer nada. Mas hoje mesmo um fiscal passou por mim e disse para eu sair do local em que estava. Então, vim para esta outra rua e sigo vendendo”, prossegue.
Outro vendedor não-licenciado também celebra o lucro extra no dia de clássico e revela o receio com a fiscalização. “Não temos licença. Então, se nos pegarem, levam a mercadoria. Mas é difícil de acontecer”, argumenta ele, que também prefere não se identificar.

Além da cerveja, o consumo de bebidas destiladas de maior teor alcoólico também foi ostensivo nas horas que antecederam o Atletiba. Nas calçadas, garrafas de vodka e whisky se misturavam com sucos e refrigerantes, formando o famoso tubão. Tudo sob os olhares da Polícia Militar, presente em grande número no entorno do Alto da Glória. (Julio Filho)

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