Dengue e turismo

O ?trade? turístico do Rio de Janeiro é unânime ao afirmar que a epidemia de dengue está deixando às moscas os equipamentos de recepção de estrangeiros e inclusive brasileiros que visitam a ?Cidade Maravilhosa?.

Para piorar a situação, o governo federal acaba de cortar mais de R$ 2 bilhões da verba do Ministério do Turismo, deixando a ministra Marta Suplicy com pouco mais de R$ 300 milhões para atender aos interesses do setor em todo o País. E a propaganda do Rio de Janeiro no exterior ficou prejudicada. A propaganda negativa, entretanto, a dengue se encarrega de fazer e de forma substancial.

Uma reportagem publicada no jornal norte-americano Los Angeles Times diz que a epidemia de dengue ameaça o status favorável que o Brasil conquistou no setor econômico e revela o ?lado escuro do Rio de Janeiro?.

Diz a matéria que ?o País parece propenso a conquistar o status de primeiro mundo. Mas moradores da auto-proclamada ?Cidade Maravilhosa? estão preocupados e irritados com uma aflição do terceiro mundo a dengue?.

Não escapa à opinião pública internacional o fato de que a epidemia de dengue é conseqüência e não causa. Que ela se dá pondo a nu problemas como a pobreza, a falta de estrutura médica e hospitalar, problemas gravíssimos de saneamento. Todos os problemas que não acontecem só agora, mas que existem desde sempre e nesta hora de epidemia causada por um mosquito de mundo subdesenvolvido, espalha suas terríveis conseqüências, exibindo um país que já não se mostra como candidato a nação de primeiro mundo.

O jornal norte-americano, um dos mais prestigiosos daquele país e respeitado em todo o mundo ocidental, traz números fornecidos pelas próprias autoridades brasileiras. Diz que a dengue teria matado 87 pessoas só no Estado do Rio de Janeiro, número que já se sabe foi superado, passando de 90. Acrescenta que mais de 93 mil pessoas teriam sido infectadas, número que, infelizmente, também já foi ultrapassado.

A reportagem acrescenta que os cariocas não estariam culpando o mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypty, pela epidemia, mas ?atacando o que chamariam de uma resposta tardia e confusa do governo? em razão da lentidão das ações de fumigação. Isto é verdade, mas não só a lentidão na fumigação está por detrás da epidemia, mas todo um quadro de subdesenvolvimento, notadamente na cidade do Rio de Janeiro onde a maioria dos casos está sendo verificada.

Para exemplificar, o Los Angeles Times compara a confusão, lentidão e inação das autoridades brasileiras ao que aconteceu nos Estados Unidos quando do furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans. Houve um jogo de acusações, um empurra-empurra de responsabilidades e quem ficou no sofrimento foi o povo daquela cidade da Louisianna.

O jornal norte-americano destaca declarações do governador fluminense Sérgio Cabral que disse que ?é preciso combater a dengue do mesmo modo que não podemos tolerar a ocupação das favelas pelos traficantes de drogas?. Como a guerra entre a polícia e os traficantes, a epidemia de dengue ?se transformou em uma mancha na imagem glamorosa do Rio?.

Há desconfiança de que as autoridades estão pondo panos quentes sobre o gravíssimo problema para tentar minimizar o arrefecimento do turismo internacional para a ?Cidade Maravilhosa?. Mas, como diz o jornal, ?a notícia se espalhou?. As embaixadas de vários países estão alertando os turistas sobre as prevenções que devem tomar em caso de pensarem em visitar o Rio de Janeiro. E muitos simplesmente desistem e voam para outros destinos turísticos.

Seria amargo consolo imaginar que a dengue prejudica só o turismo. Como disse o jornal norte-americano, a epidemia efetivamente ameaça o status favorável que o Brasil vinha conquistando em todo o setor econômico, por evidenciar problemas que temos e ainda poderemos ver agravados próprios de país subdesenvolvido.

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