Estamos longe e é impossível alcançar a democracia direta dos antigos gregos, semente das modernas democracias. No nascimento do sistema de governo ?do povo, para o povo e pelo povo?, os cidadãos (e cidadãos não eram todos, mas uma casta de privilegiados), deliberava sobre assuntos de interesse público em praça pública, com manifestação direta, reduzindo-se em muito ou condicionando as interferências dos senadores, teoricamente delegados da sociedade.

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Na nossa democracia, apenas formalmente temos a representação do povo, de forma indireta, porém viável porque vivemos em países, como o Brasil, com cerca de 180 milhões de habitantes, em que seria impossível a consulta popular sem a utilização da manifestação de mandatários dos cidadãos, vereadores, deputados estaduais e federais e senadores, conforme o nível das deliberações e sua jurisdição.

Acontece que, no Brasil e em muitos outros países onde a democracia sofreu interrupções em seu caminho de aperfeiçoamento, com golpes de Estado, supremacia de determinadas classes políticas e sociais, estruturas jurídicas imperfeitas e formação de uma ?elite? que manipula o poder de acordo com seus próprios interesses, o regime democrático representativo tem se provado ineficaz.

Entre nós, eternizam-se as leis injustas ou que estabelecem privilégios e as que sonegam a cidadãos direitos que a outros são oferecidos como verdadeiros privilégios. Um bom exemplo é o caso do nepotismo, que só agora parece sofrer um ataque mais de frente e pode, como instrumento fétido de privilégios, senão desaparecer, pelo menos ser contido e não se ampliar como expressamente prega o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Todos sabem que Severino, se pudesse, empregaria no governo toda a sua família, alardeando aos quatro ventos que este seria um seu direito, pois é nada menos que ?sua excelência, o presidente da Câmara dos Deputados?.

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Mas já surgem antídotos para o silêncio das massas que a democracia por representação, que adotamos, nos impõe. Quando o governo tentou aumentar a tributação dos prestadores de serviços usando malandra artimanha ao incluir a elevação da carga fiscal numa medida provisória que devolvia, em pequeno percentual, o IR retido a maior dos trabalhadores, grupos organizados da sociedade levantaram a opinião pública, levando o Congresso, quase sempre sabujamente obediente ao Executivo, a ameaçar a rejeição da providência proposta pelo governo. Agora, inicia-se um movimento, também de mobilização popular, contra o aumento geral da carga tributária, que é a maior do mundo. E a opinião pública poderá, mais uma vez, fazer-se ouvir por aqueles que, via voto, deveriam ser seus representantes nas casas legislativas.

Ao que tudo indica, finalmente, os brasileiros começam a entender que é possível aperfeiçoar o nosso regime democrático, mesmo tendo tão falhas e desacreditadas casas legislativas. Basta usar corajosa e eficientemente a opinião pública. Redescobrir e mostrar que, no fundo, quem manda é o povo.

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