Demissões fecham leitos e prejudicam o atendimento aos pacientes do Hospital de Clínicas

Foto: Cassiano Rosario / Gazeta do Povo.

A recente demissão de 182 funcionários da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná (Funpar) tem causado transtornos para pacientes e os trabalhadores que permanecem no Hospital de Clínicas de Curitiba (HC), incluindo o fechamento de leitos de Terapia Semi-intensiva, das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e da Unidade Referenciada, além de problemas com o agendamento das consultas e o atendimento aos pacientes.

Na última terça-feira (3), pelo menos dois Serviços de Ambulatório Médico (SAM) da instituição ficaram fechados durante parte do dia. Situação que deve se estender até meados de março de 2020, de acordo com informações do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Paraná (Sinditest-PR), por conta da licitação orçada em cerca de R$ 10 milhões para a contratação de terceirizados, que pode levar cerca de 90 dias para ser concluída.

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“Está uma situação caótica nos ambulatórios. Com a demissão dos trabalhadores da Funpar houve uma sobrecarga de trabalho dos funcionários que ficaram dos demais vínculos, tanto dos estatutários da Universidade Federal do Paraná (UFPR), quanto dos empregados públicos da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)”, explica o coordenador-geral do Sinditest-PR Daniel Mittelbach.

Segundo Daniel, os servidores da Funpar representavam 15% da força total de trabalho do Hospital de Clínicas. Já em setores como os ambulatórios e a Central de Agendamentos de Consultas, estes trabalhadores eram mais de 50% do total de empregados. A maioria das pessoas demitidas atuava nos cargos de recepcionista, telefonista e auxiliar de almoxarifado, lidando diretamente com os pacientes que chegam todos os dias ao HC para passar por uma consulta médica.

“Isso prejudica um serviço de linha de frente, de primeiro atendimento aos pacientes. Além da sobrecarga, quem ficou vem sofrendo todo o tipo de pressão, das chefias para manter o atendimento funcionado e principalmente da população, que está reclamando, indignada com os atrasos nas consultas, cancelamentos e o tempo de espera maior nas filas”, diz Daniel, que ainda afirma que o número de consultas deve ser reduzido entre o fim de 2019 e inicio de 2020, pela falta de mão de obra no HC.

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Para os funcionários, que cobram mudanças e um posicionamento oficial da direção sobre os problemas, o hospital teria tido tempo de se programar para as mudanças, já que as demissões estavam previstas desde 2014, após a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), firmado entre a UFPR e o Ministério Público do Trabalho (MPT).

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O acordo determinou que hospital passaria a contar com um quadro pessoal formado exclusivamente pelo funcionalismo público. Os motivos da mudança foram as alegações da Justiça, de que os vínculos trabalhistas com os funcionários da Funpar eram precários.

‘Um caos’

A auxiliar de enfermagem Vera Lucia Alves Barreto, 53 anos, há 17 anos concursada da Reitoria, confirmou a redução gradativa dos atendimentos a pacientes. “Está um caos”, disse. O setor dela, chamado Leitos da Retaguarda, no 10.° andar, absorvia pacientes da Terapia Semi-intensiva, das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e da Unidade Referenciada, que é tipo um pronto-atendimento do Hospital de Clínicas. “Lá, tinham 16 leitos. Com a saída do pessoal da Funpar, ficaram 12 leitos e estávamos tocando, com 12 pacientes internados. Mas, estão fechando. O Transplante Hepático já fechou. O atendimento está reduzido”, contou a Vera Lucia.

A funcionária disse que, a partir da saída da Funpar, a população terá menos leitos para internamento e atendimento precário no ambulatório pela falta de funcionário para levar prontuário e fazer outras tarefas. “Os ambulatórios já estão prejudicados. É gente que vem de fora e tem que voltar embora. São consultas que são canceladas, procedimentos que são cancelados”, apontou.

Ainda segundo a Vera Lucia, a administração não quer mais os auxiliares de enfermagem no HC. “Estão nos remanejando para outras unidades, como por exemplo, o Hospital e Maternidade Victor Ferreira do Amaral. Nós fomos praticamente obrigados a ir para lá. Eu perdi meu setor, perdi uma parte da minha insalubridade que era de 20% e vai cair para 10%. E perdi o adicional noturno porque no Victor do Amaral não tem”, reclamou.

O que diz o HC

Procurado, o Complexo Hospital de Clínicas informou em nota que mantem o atendimento à sociedade, apesar das dificuldades que enfrenta, negando, no entanto, que pacientes tenham deixado a instituição sem atendimento durante a última semana. “Nenhum ambulatório deixou de prestar atendimento no HC. Também não tivemos nenhuma notificação de pacientes que não foram atendidos”.

Segundo o hospital, no entanto, os pacientes podem enfrentar um tempo maior de espera. “A assistência no CHC não foi interrompida. Alguns atendimentos podem precisar de mais tempo de espera para serem realizados, devido à reestruturação de nossos serviços. Nenhum paciente sairá sem atendimento. Todos serão recebidos com a qualidade e excelência com que acolhemos à sociedade nesses 58 anos de história. Realizamos cerca de 1600 atendimentos diários, que totalizam de 30 a 35 mil consultas mensais”.

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Sobre os problemas alegados pelo Sinditest-PR, o Hospital de Clínicas reforçou que está adotando medidas para garantir o funcionamento normal de todos os setores da instituição. “O Complexo está trabalhando para gerenciar os altos índices de absenteísmo [faltas de funcionários], redistribuindo atividades de recentes pedidos de exoneração e aposentadoria, readequando as jornadas de trabalho, finalizando um processo para terceirização de cargos extintos, aguardando nomeação de concurso que está em andamento e alterando o fluxo de processos”, diz o HC, em nota.

Em casos de problemas, a orientação aos pacientes é a procurar a Ouvidoria do HC. “A instituição orienta ainda aos pacientes que tenha problemas que formalizem a situação na Ouvidoria do CHC, a fim de que possamos tomar ciência e agir.

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