A atividade fraca e a demanda interna retraída estão impedindo um crescimento maior das importações, mesmo com o dólar em nível baixo, segundo observa José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)."O que ocorre é que a demanda interna é muito fraca para segmentos não vinculados ao crédito", disse.
A avaliação é que, com a taxa de câmbio atual e os prazos de pagamento favoráveis disponíveis para os importadores, "deveria haver uma explosão de importações". Nas duas primeiras semanas de março as importações cresceram 22% (em dólares) na média diária ante igual mês do ano passado, porcentual bem superior ao total de janeiro ante igual mês de 2005 (média diária de 16,7%), mas Augusto de Castro disse que ainda é cedo para afirmar que essa é uma tendência.
Ele acredita que o câmbio deverá afetar de forma crescente as importações (com aumento) e as exportações (com decréscimo) ao longo deste ano. Segundo ele, é possível afirmar que o aumento das importações abaixo do potencial fornecido pelo câmbio até o momento está relacionado à fraca demanda interna porque a produção industrial brasileira também está em marcha lenta.
O economista André Macedo, da coordenação de indústria do IBGE, avalia que, mesmo não crescendo de forma muito significativa, as importações já afetam a produção de alguns segmentos. Ele acredita que no caso dos bens intermediários, por exemplo, cujas importações cresceram 10,2% na média diária em janeiro ante igual mês de 2005, o crescimento da produção ante mês anterior (0,4% em janeiro ante dezembro) poderia ter sido mais vigoroso sem a influência das importações, que estão aumentando a concorrência interna para alguns setores.
Macedo cita também o exemplo de segmentos como vestuário e têxteis como afetados pela concorrência dos importados. No caso dos têxteis, as importações do grupo vestuário e outras confecções têxteis cresceram 39,4% em janeiro ante igual mês de 2005, enquanto a produção do grupo fiação e tecelagem de fibras artificiais ou sintéticas, calculada pelo IBGE, caiu 1,9% no período. "É uma questão matemática, de custos, se os produtos ou matérias-primas ficam mais baratos na importação do que no mercado interno, será essa a opção dos consumidores e empresas", disse.
Para Augusto de Castro, o crescimento das importações ainda não é capaz de afetar a produção interna. "Teríamos que importar muito mais para que isso ocorresse", afirma.
