Um dia depois de o PT divulgar nota negando o registro formal de qualquer pagamento à Coteminas, o ex-tesoureiro Delúbio Soares mudou hoje (6) sua versão a respeito do depósito de R$ 1 milhão à empresa do vice-presidente José Alencar. Pivô do escândalo do ‘mensalão’, Delúbio sustenta agora ter se equivocado ao tratar o repasse como oficial e, também por meio de nota, disse que o dinheiro "tinha origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT. Trata-se de parte do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas do Diretório Nacional do partido".
A nova versão de Delúbio é posterior também a declarações do relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que o pagamento à Coteminas indica a existência de outra fonte que abasteceu o caixa 2 do PT, além dos empréstimos declarados por Valério e Delúbio. Isso porque a Companhia de Tecidos Norte de Minas recebeu R$ 1 milhão, em dinheiro, no dia 17 de maio deste ano para quitar parte de uma dívida contraída pelo PT com a compra de camisetas em setembro e outubro de 2004. Ocorre que o último depósito feito pelo publicitário em benefício do partido é de 1º de outubro de 2004.
"Acredito que a nota do ex-tesoureiro seja uma tentativa de mascarar essa outra fonte para o caixa 2 do PT", afirmou Osmar Serraglio. "A CPI continua atrás dessa ou dessas outras fontes. Não faz sentido receber o dinheiro em outubro e usá-lo sete meses depois."
Delúbio apresentou a versão de que o repasse à Coteminas fora contabilizado normalmente ainda no sábado. Já no fim de semana, o novo secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira disse que não havia registro de tal pagamento. Hoje ele repetiu a informação, confirmando apenas que uma funcionária da tesouraria, Marice Corrêa de Lima, foi encarregada de "levar uma encomenda" à Coteminas.
"Ela cumpriu ordens e não tem nenhuma responsabilidade sobre os fatos", disse. "Esse episódio se circunscreve nas operações informais que a antiga direção fazia, demonstra a informalidade que vigorava no comando do partido."
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, repetiu que o partido não tem como lidar com dados não contabilizados oficialmente. Não esclareceu, porém, se pretende descontar o R$ 1 milhão já destinado à Coteminas do total que ainda deve à empresa. "A Coteminas terá de dizer quanto o PT precisa pagar", declarou Berzoini.
Questionado sobre as contradições apontadas por Serraglio, o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros Filho, afirmou que o ex-tesoureiro não tinha nenhuma informação a acrescentar à nota.