Delgado diz que dados cruzados mostram culpa de Dirceu

Brasília (AE) – O deputado Julio Delgado (PSB-MG) disse ter virado noites fazendo cruzamento de telefonemas e informações fornecidas ou não pelas CPIs dos Correios e Mensalão para montar sua convicção sobre a participação do deputado José Dirceu no esquema de pagamento de ‘mensalão’ a parlamentares. Ele se baseou também no levantamento de audiências do ex-ministro da Casa Civil, que ele próprio enviou ao Conselho de Ética. "Algumas vezes eu fui dormir às 5 horas da manhã", contou Delgado, satisfeito pelo "dever cumprido" e pelos cumprimentos e elogios de colegas do Conselho.

O relator espera, agora, que seu trabalho possa ser usado pelas CPIs e ajude também o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mandado de segurança apresentado por Dirceu. O relatório do deputado desmonta totalmente a tese que Dirceu levou ao STF, segundo a qual não poderá ser punido por fatos que aconteceram quando esteve à frente da Casa Civil. Delgado disse que Dirceu, mesmo na função de chefe da Casa Civil, não perdeu os contatos nem o controle do comando do PT. "Desenvolveu, nos 30 meses que esteve no governo, uma agenda privilegiada com as pessoas envolvidas no escândalo de corrupção que levou à instalação de três CPIs no Congresso", afirmou, em seu voto.

Para tentar provar que Dirceu comandara o esquema do ‘mensalão’, ou seja, o pagamento a parlamentares para votarem em favor do governo, Delgado se baseou principalmente nos dados de quebra de sigilo telefônico. Ele relacionou também algumas medidas provisórias "que enfrentavam muitas resistências", como a do PIS-Pasep, do Cofins, da Biossegurança e da antecipação da Cide, mas que foram aprovadas na Câmara. As aprovações coincidiam com os depósitos de dinheiro nas contas do PT, feitos pelo empresário Marcos Valério. O relator citou também vários telefonemas feitos por Marcos Valério ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), durante o período de votação da MP 113 que liberou a comercialização da safra de 2003, usando transgênicos.

Essa MP chegou a ser retirada da pauta por falta de apoio no dia 13 de maio. Mas depois de telefonemas trocados entre Marcos Valério e o diretório nacional do PT em São Paulo ela foi aprovada. Em maio de 2003, teriam sido depositados R$ 750 mil nas contas do PT e R$ 250 mil nas contas do PTB. "Ao todo foram identificados 29 telefonemas do Sr. Marcos Valério para os Bancos Rural e BMG, para a presidência da Câmara, para o sr. Delúbio Soares e para o diretório nacional do PT", afirmou Delgado, fazendo a relação das votações com o abastecimento das contas dos dois partidos pelo esquema de Marcos Valério.

Para Júlio Delgado, o deputado José Dirceu tinha "poderes para ser o autor intelectual de todo este esquema ou pelo menos, poderes suficientes para impedir que tais práticas prosperassem". Essas e outras afirmações de que o ex-ministro "jamais se afastou das questões partidárias na Casa Civil" serão contestadas por Dirceu até sexta-feira, quando o Conselho de Ética se reunirá para discutir e votar o relatório de Delgado. O deputado vai negar também resultado de outro cruzamento do relator. Segundo Delgado, em junho de 2004, houve troca de telefonemas entre o ex-assessor Roberto Marques para Delúbio Soares e para José Dirceu. E no dia 15 do mesmo mês, o Banco Rural autorizou a liberação de R$ 50 mil para Roberto. E no dia 16 de junho, a SMP&B determinou ao Banco que substituísse o nome de Roberto Marques por Luiz Mazano, motorista da corretora Bônus-Banval.

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