Cortes acentuados dos juros, na base da "canetada", diminuição dos gastos públicos para conter a demanda na economia e redução a zero de todas as alíquotas de impostos de importação. Estes são os ingredientes da receita sugerida pelo economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto para que o governo possa conter o processo, por ele qualificado, de "supervalorização" do câmbio.

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"A supervalorização só pode ser eliminada por meio de uma ação radical. Claro que isso tem um custo para o País, mas perfeitamente suportável e admissível", disse o ex-ministro, durante o seminário "Economia Brasileira em Perspectiva", realizado pela Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Segundo Delfim, ao zerar as alíquotas de importação, o governo poderá garantir a manutenção de abastecimento do mercado, principalmente se um corte acelerado dos juros redundar em pressão de consumo. Ao mesmo tempo, argumentou, "é uma forma de forçar as indústrias a ganharem produtividade".

"Existe um movimento estimulado pelo governo, pelo Banco Central e também pelos próprios empresários ao projetarem a valorização do real. Há um ataque contra o dólar, feito no Brasil, e as expectativas de que o real vai continuar se valorizando estimulam ainda mais o ingresso de dólares", diagnosticou o economista, em mais uma vertente da sua teoria do "estado de espírito", que sugere que movimentos econômicos decorrem de uma percepção psicológica coletiva.

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Para Delfim, a necessidade de rompimento da "supervalorização" cambial é urgente, principalmente se considerada a perda de dinamismo das exportações brasileiras, notada essencialmente pela queda do ritmo de crescimento dos volumes exportados, o chamado "quantum". Ele avaliou que também é preocupante a saída, entre 2004 e 2006, de cerca de duas mil empresas, em sua maioria de micros e pequenas indústrias, do contingente de exportadores. "Essas pequenas empresas são as criativas e que garantem aumento da produtividade do País", alegou.

A iniciativa microeconômica confirmada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de desonerar tributos dos setores mais afetados pela concorrência de importados, foi elogiada por Delfim Netto, com a ressalva, porém, de ser apenas mais um item da agenda. "Temos que adotar as medidas e passar a conviver com a taxa de equilíbrio do câmbio que vier", observou.

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