O ex-deputado Delfim Netto voltou a sugerir hoje que os votos dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) sejam feitos por escrito e abertos 60 dias depois das reuniões, para que as justificativas das decisões de cada um dos dirigentes do BC sejam de conhecimento público. Segundo ele, o processo aperfeiçoaria o trabalho do comitê.
"O que estou propondo para aperfeiçoar realmente o funcionamento do Copom? É que os votos sejam dados por escrito e oportunamente publicados para que a gente saiba se eles estão nos tratando bem ou não", afirmou, após participar da reunião do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, hoje, na capital paulista.
Delfim evitou criticar os membros do Copom e o presidente do BC, Henrique Meirelles, sob o argumento de que a instituição segue aquilo que foi decidido pelo governo. "Eu não sou crítico de pessoa física, e sim de políticas. O BC recebe instruções do Poder Executivo e tem apenas um instrumento para atender seus objetivos, que é a taxa de juros nominal. O BC determina uma nova taxa de juros nominal de acordo com a compreensão que tem da realidade", disse. "Se essa compreensão não coincide com a minha, eu discordo. Eles têm a avaliação deles, eu tenho a minha", acrescentou.
Para o ex-ministro, a valorização do real frente ao dólar é conseqüência do elevado superávit comercial do País, mas as decisões do Copom a respeito da taxa de juros também tiveram papel importante na determinação do atual patamar. De acordo com ele, o superávit comercial dos países em desenvolvimento valorizou suas moedas em uma média de 16%. "A moeda brasileira teve valorização de 35%, de forma que deve haver alguma coisa errada com o Brasil, a despeito de todos os argumentos", opinou
"O câmbio é um fenômeno complexo e acredito haver dois componentes na determinação de seu valor. Um deles é o enorme superávit comercial que o Brasil tem. O outro que explica essa supervalorização é, na minha opinião, a possibilidade de arbitragem pela diferença dos juros", destacou.
Delfim negou ter sido convidado para assumir um ministério no governo Lula. "Isso é uma questão absurda. Você está querendo ir para a lua? Eu não tenho foguete", respondeu. Na avaliação dele, o governo saberá administrar o desejo do PT de aumentar o número de ministérios sob sua gestão, inclusive avançando sobre pastas que estão nas mãos do PMDB. "O fato de as pessoas desejarem mais não significa necessariamente que terão mais", ironizou.
Para Delfim, as emendas que os deputados acrescentaram às medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) devem aperfeiçoar o programa. "O fato de haver emendas é saudável. Há emendas boas, há emendas más, mas nada sai do Congresso a não ser melhor do que entrou. Normalmente o Congresso aperfeiçoa os programas e eu espero que isso aconteça também com o PAC", afirmou.