O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), usou hoje a tribuna para esclarecer, em nome do governo, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva feitas ontem no Espírito Santo. Após visitar obras da Estação de Tratamento de Óleo Fazenda Alegre, da Petrobrás, em Jaguaré, Lula disse que, no início de seu governo, "um alto companheiro" teria lhe dito que "o processo de corrupção" em governos anteriores havia sido muito grande. Ele relatou ter aconselhado o interlocutor a não tratar dessas informações publicamente.

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Segundo Amaral, essa conversa ocorreu no início de 2003 entre Lula e o então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa. A conversa faria referência à compra da Eletropaulo pela empresa norte-americana AES, em 1997. O senador disse que o negócio envolveu um empréstimo do BNDES de US$ 1,4 bilhões. Com o racionamento de energia em 2001, as empresas do setor passaram por uma crise financeira "e suas ações viraram pó", disse o líder petista. Na época, Lessa teria dito ao presidente ? segundo relatou Amaral ? que, por causa da crise vivida pela AES, o banco teria que lançar uma dívida em dezembro de 2003 da ordem de US$ 2 bilhões.

Após esse episódio, afirma Amaral, o BNDES deu início a um processo de renegociação com o setor ? que resultou no acordo em que a AES ficou com 50,01% das ações da Eletropaulo, e o governo federal, com outros 49,99%.

Amaral subiu à tribuna para esclarecer as declarações do presidente, depois de líderes da oposição terem afirmado ontem que havia elementos para processar Lula se ele não providenciou na época a investigação sobre o caso relatado a ele. O líder petista afirmou ter conversado com Lula, o ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom), Luiz Gushiken, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, além do atual presidente do BNDES, Guido Mantega.

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Esta manhã, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) apresentou requerimento à Mesa Diretora pedindo a convocação do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, para explicar no Senado as declarações do presidente Lula. Já o líder do PSDB, Arthur Virgilio Neto (AM), propôs um voto de censura do Senado ao presidente.