Em 2004, Afif Jorge Simões Neto, Juiz de Direito em Porto Alegre, publicou Em nome do pai (Ed.do Autor, Porto Alegre). Intercalando textos autobiográficos de seu pai e testemunhos de amigos, relata episódios que esboçam o perfil de Afif Jorge Simões Filho. Um perfil que se completa nos poemas de sua autoria, também parte do livro. Entre eles, os que escreveu como advogado de defesa de réus que ?não tinham condições financeiras para constituir um advogado?. Um desses poemas, foi recuperado, graças ?`a memória do desembargador aposentado José Ernesto Flesch Chaves, juiz de Direito em São Sepé à época do processo?. Defende Assis, ?metido a tocador de gaita, que resolveu por bem dar uma exemplada na mulher Helena?. O caso foi parar na Delegacia de Polícia e, mais tarde, no Fórum de São Sepé, Rio Grande do Sul.
Assis e Helena
Assis e Helena se amavam,
Casal perfeito e feliz,
Mas a vida nos ensina
Que ela também desafina
Como a cordeona do Assis.
Helena posta em sossego
Deitada estava a sestear,
Quando Assis, chato e birrento
Tira da caixa o instrumento,
Não parava de tocar.
Quando entrou num limpa-banco,
Bonito de pedir bis,
Helena briguenta e mandona,
Arranca dele a cordeona
E arranha a cara do Assis.
Ele reage e agride
A esposa antimusical,
Que ante o fato acontecido
Carrega gaita e marido
Ao distrito policial.
Mas depois retira a queixa,
E é ela mesma quem diz,
Que uma gaita mal tocada
Não pode por fim à estrada
De um casamento feliz.
Senhor Juiz siga o conselho
De meu saudoso ancestral,
Ponha a queixa na gaveta,
Fique quieto e não se meta
Nesta briga de casal.
Se os amantes se perdoaram,
Resolvendo a situação,
Justo é o pouco que lhe peço:
Que encerre este processo
Com a esmola do perdão.
Cecilia Zokner é doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Bordeaux, França. Assina a Coluna Literatura do Continente no Caderno Almanaque deste O Estado.