Defendam o homem

Primeiro com os ministros e assessores diretos do primeiro time, depois com os parlamentares da base aliada. Agora com os governadores de todos os estados, independentemente de cor partidária. A ordem é uma só: defendam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Defendam o homem. Defendam, principalmente, as propostas de reforma que partiram do Planalto para fazer a meia-sola da Previdência e modificar algumas coisas do sistema tributário nacional para garantia do caixa geral da União e dos estados.

A idéia de defesa necessária e constante se completa com o apelo transmitido a representantes de 19 estados brasileiros reunidos dia 19 em Canela, no Rio Grande do Sul, pelo secretário de Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência, Luiz Gushiken. Quinze dos presentes eram secretários de Comunicação. Já que os governadores estaduais também dependem das reformas para aliviar seus caixas, os estados precisam entrar na luta para criar uma corrente favorável às reformas em todo o Brasil.

Nesse trabalho de “dourar a pílula” o governo de Lula está sendo bombardeado principalmente pelo “fogo amigo”, é verdade. Mas o bombardeio está causando estragos já visíveis na opinião pública nacional e o contra-ataque é a única forma de reduzir os malefícios dos chamados “radicais”, que se aliaram confortavelmente com centrais sindicais e o funcionalismo público pelo discurso dos direitos adquiridos, no caso da reforma da Previdência. No caso da reforma tributária, a luta é contra o genérico contribuinte, naturalmente avesso a aumento de impostos.

Considere-se que, no caso da Previdência, o governo federal está temporariamente impedido por uma decisão judicial de fazer propaganda de seu projeto e de suas idéias. A decisão do juiz federal Vicente de Paula Ataíde Júnior, substituto da 5.ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, está causando estragos desde meados de maio. A estratégia do Planalto é, pois, esta de apelar aos governos estaduais, parceiros nas vicissitudes, para que propagandeiem o que por enquanto não pode fazer de forma explícita. Afinal, também eles precisam salvar-se da hecatombe há muito anunciada nas previdências estaduais.

Nessa corrente para frente, vale tudo. Quem não estiver convencido pela via dos argumentos, poderá ficar a favor pela via do aliciamento. Começa o jogo pesado da distribuição dos cargos de escalões menores em órgãos públicos federais. Ganha quem se disser – e votar – a favor das reformas, “salvação do Brasil”. Enquanto ministros de Estado são intimados a fazer palestras e pronunciamentos em defesa do governo a que servem, as nomeações, na outra ponta, tratarão de sossegar o “baixo clero” – essa gente sem luz própria que vota no Parlamento em defesa do que se convencionou chamar de interesses nacionais.

A verdade é que, na linguagem até aqui mais transparente do governo de Lula, estamos aprendendo também um pouco mais sobre como funciona, de fato, o poder. E às vezes isso dá-nos a impressão de que temos saudades dos velhos tempos de Fernando Collor, quando, sem tantas negociatas nem muitos acordos, ele tentou fazer mudanças no berro. Lula, como se vê (e ele próprio diz), tem a paciência de um pescador. Resta saber se o Brasil será tão paciente quanto ele espera.

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