Declaração impensada

O clima de profundo abatimento trazido pela morte do papa João Paulo II deve ter pesado sobre o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, com Eusébio Scheid, que ao desembarcar em Roma para acompanhar as cerimônias fúnebres dedicadas ao pontífice fez declarações – no mínimo impensadas – em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Faz muito tempo que não se vê no Brasil presidente da República católico de ir à missa e comungar com a assiduidade que à Igreja traria excelentes dividendos, sobretudo pela força de emulação do testemunho junto ao laicato.

Não é por esse motivo, entretanto, e nem se tratando do presidente atual em particular, que figura proeminente como o cardeal Scheid – ou qualquer outra da hierarquia católica – tem a liberdade de fazer afirmações dessa gravidade.

Um dos preceitos assegurados pela Constituição é a separação entre Igreja e Estado, obrigando-se ambas as instituições, cada qual em seu terreno específico e com a respeitabilidade devida, grosso modo, a zelar pela execução de projetos cujo escopo seja o progresso socioeconômico e a valorização ética e moral dos indivíduos.

O princípio é válido, em igual ou maior intensidade, para a salvaguarda do relacionamento superior entre autoridades públicas e chefes da Igreja, cujo diálogo foi, num momento de fraqueza, absurdamente atropelado.

Felizmente, horas depois da lamentável peroração do cardeal do Rio, chegou também a Roma o arcebispo Cláudio Hummes, homem de reflexão e ações resolutas, sempre assinaladas pela firmeza dos religiosos que, lado a lado com os sofredores, alicerçaram a fé e a esperança, para repor as coisas a seus devidos lugares.

Afinal, o mesmo dom Cláudio a quem Lula recorreu tantas vezes, na diocese de Santo André, quando precisou de amparo firme para não desistir da luta recém-iniciada.

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