Declaração de Regina Duarte cria polêmica entre classe artística

O caso Regina Duarte parece longe de um capítulo final. Enquanto a atriz mantém silêncio – não tem conversado nem com amigos mais próximos sobre o episódio -, novos focos de conflito surgem aqui e ali. Hoje, foi a vez do ator Raul Cortez, amigo de Regina, reagir contra artigo do compositor Aldir Blanc, no qual ele sugere que a atriz, “como um Baby Bush qualquer”, declarou “por dinheiro, para manter intocados seus privilégios, os medos” que sente na televisão.

Segundo Raul Cortez, não existe a menor possibilidade de ser uma participação remunerada e essa sugestão é absurda. “Como eu também, ela jamais faria por dinheiro – quando diz que o texto é dela, é porque é dela”, afirmou.

Muitos amigos e ex-colegas da atriz, como o ator Paulo Autran (que dividiu a cena com Regina em uma montagem de A Dama das Camélias, dirigida por José Possi Neto), saíram em sua defesa. “Eu acho que nós, da classe teatral, lutamos 20 anos para ter o direito da liberdade de expressão e não podemos abrir mão disso agora. Além do mais, o que ela está sentindo não é só ela, é muita gente que sente”, afirmou.

Mobilização

“Ela jamais espalharia terrorismo. Ela deu sua opinião porque acredita estar vivendo num país democrático. É uma pessoa de caráter”, disse a atriz Irene Ravache, que invoca passeatas e manifestações de rua ao lado de Regina para dizer que é capaz de defendê-la irrestritamente.

Outra amiga de Regina, a produtora Lulu Librandi, está mobilizando esforços para tentar evitar que a atriz se torne vítima do que chama “patrulha ideológica”, coisa que ela diz já ter acontecido com Cláudia Raia, Marília Pera (com Fernando Collor de Mello) e Gal Costa (com o senador eleito Antonio Carlos Magalhães).

A expressão “patrulha ideológica” popularizou-se com o cineasta Gláuber Rocha, nos anos 70. Quando ele voltou do exílio fazendo um elogio rasgado ao ministro Golbery do Couto e Silva, foi um Deus nos acuda. Gláuber o enxergava como um esclarecido, um dos interlocutores possíveis na ditadura, alguém que influiria no processo de abertura, da distensão gradual à anistia ampla.

“O caso dela não pode ser comparado ao apoio da Marília Pera ao Collor”, disse a atriz Maria Alice Vergueiro. “O Collor foi imposto, e não é o caso do Serra, que vem de uma tradição democrática. De qualquer maneira, eu acho que ela deveria ter aprendido aquela lição do Brecht. Ele escreveu: ‘Eu moro num País onde há fome. Eu moro num País onde eu passo fome’. Há uma diferença nisso.”

Para a cantora Rita Lee, esse parece ser um caso onde se aplica um dito popular clássico. “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”, diz a cantora. E emenda: “Isto serve tanto para os marqueteiros do PT quanto para os do PSDB. De qualquer maneira, tenho pavor de qualquer tipo de censura e patrulhamento; lugar de artista não é no palanque, é no palco”.

Responsabilidade

Ainda assim, as críticas persistem, mesmo ressaltando o direito à expressão. “Não é pela posição política  nem pessoal, isso é problema dela”, afirmou a atriz Leona Cavalli. “Mas um artista se colocar dessa forma é delicado. Você ir na TV para falar de medo? O Brasil e todos os brasileiros, independentemente da posição política, precisam ter encorajamento. Ela tem muita influência, tem responsabilidade. Achei pesado, porque contribui para alimentar o medo, que é um medo criado; a realidade política e econômica do Brasil já está se agravando há muito tempo.”

“Cada um se expressa como quiser, desde que não seja na expressão do preconceito”, afirmou o cantor, escritor e compositor Jorge Mautner – que, como o parceiro Caetano Veloso, diz que não revela seu voto. “Mas o medo faz parte da natureza humana; às vezes, é o outro nome da angústia. Acho que essas discussões são positivas, fazem parte da dialética da democracia.”

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo