Com a absolvição do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) no plenário da Câmara, até agora o placar geral do mensalão indica que oito deputados foram inocentados da pecha de beneficiários do valerioduto e, apenas, três perderam seus mandatos e direitos políticos. Resultado que enche de opróbrio a maioria claramente disposta em torno da decisão corporativa de defender os colegas da cassação, sem se preocupar com o que pensa a opinião pública.
João Paulo foi absolvido por folgados 256 votos a 209, mesmo que o parecer pela cassação produzido pelo relator Cezar Schirmer (PMDB-RS) fosse considerado um dos mais perfeitos e documentados dessa quadra de leviandades vivida pelo Congresso Nacional.
Depois da absolvição em plenário, quando a maioria ratificou sua atitude de deboche e revanchismo ao trabalho feito pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o relator foi acompanhado pelos deputados Orlando Fantazzini (PT-SP), Júlio Delgado (PSB-MG), Chico Alencar (PSOL-RJ) e Benedito Lira (PP-AL), na entrega dos pedidos de renúncia de suas vagas no conselho.
Schirmer revelou que em 34 anos de vida pública ?não conheci na história brasileira tamanha frouxidão moral, onde nada mais é irregular ou ilícito?. Na verdade, a posição corajosa assumida por esses parlamentares, que decerto não ficarão isolados em seu destemor, coloca o próprio Conselho de Ética diante de uma encruzilhada, tendo em vista o descrédito com que sua atividade vem sendo tratada pela maioria da Casa.
O deputado João Paulo Cunha, que exerceu a presidência da Câmara nos dois primeiros anos do mandato de Lula, sacou R$ 50 mil do valerioduto, após receber autorização do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Para o deputado, não houve a menor dúvida que o dinheiro vinha do PT, pois se destinava ao pagamento de pesquisas realizadas em municípios da região de Osasco, SP, onde Cunha tem seu domicílio eleitoral.
Não importou para a maioria que a CPMI dos Correios tenha provado, a posteriori, um fértil entendimento comercial entre João Paulo e as agências de propaganda de Marcos Valério de Souza, em campanhas de divulgação dos feitos da Câmara dos Deputados, donde provavelmente tenha brotado a ajuda não contabilizada.
Nada disso, porém, mexe com as emoções republicanas do baixo clero.