Debate estéril

Durou mais de uma semana o debate estéril entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

FHC considerou incompetente o governo petista e o disse com todas as letras. Todas, que não são muitas nem suficientes para que se aquilate o que acha o ex-presidente que é necessário fazer para que o atual governo mereça o qualificativo de competente.

As respostas de Lula foram várias, em frases irônicas e agressivas, usando do máximo de malícia que a verve que tem e usa competentemente permitiu.

Tem-se a impressão de que FHC errou o pulo, fazendo a sucinta e contundente crítica quando se anunciava um crescimento do PIB da ordem de 5%. O resultado de crescimento do PIB é satisfatório, se bem que se iguala ao crescimento do PIB no mundo. Isso quando o Brasil precisa de muito mais para sair da situação em que se encontra, com alto desemprego, juros elevados e a obrigação penosa de produzir superávites enormes e permanentes, para rolar a dívida externa e tentar o quase impossível: pagá-la pelo menos em parte.

Não fosse o fato de FHC ter feito sua crítica na hora errada e nada ter dito sobre o que deveria o governo Lula fazer para não ser incompetente, o melhor seria que ambos ficassem calados. Ou que o presidente não acusasse o golpe e ocupasse as atenções do seu governo, da oposição, da opinião pública e dos meios de comunicação tão intensamente e por tanto tempo com uma discussão que não leva a nada.

Parece certo que FHC não é candidato à Presidência da República em 2006. Ele não se aposentou da política, mas tudo indica que prefere as honrarias de um "ex" que os desafios de, outra vez, buscar nas urnas a volta ao poder. Quer, é evidente, que um correligionário seu suceda a Lula, mas isso é natural e existem dúvidas sobre se tem suficientes votos para tornar esse sonho realidade.

Ninguém derrotará Lula, a não ser ele mesmo, na medida em que não souber conduzir com propriedade os assuntos que lhe são afetos como chefe da nação. Lula está apartado do seu governo. A opinião pública não o apupa, mas aplaude. A sua equipe, entretanto, tem um conceito menos sólido. Para muitos, é de fato incompetente. Tanto mais agora, quando nem equipe existe, tantas e tais são as modificações previstas nos quadros situacionistas. O PT perderá poderes para que conquistem aliados de outros partidos em número suficiente para que haja governabilidade.

As respostas irônicas ou ásperas de Lula não atingem, portanto, o objetivo de enfraquecer um adversário. Nem de defender o presidente que não está recebendo ataques tão poderosos para merecerem tantas atenções e repetidas defesas.

Os resultados positivos colhidos pelo País sob o comando de Lula mais se devem à conjuntura nacional e internacional que às ações do governo.

Portanto, ao invés de gastar saliva num debate estéril, o melhor que deveria fazer seria governar com competência, que se cobra de toda a equipe, esta e a que deverá ser formada com as mudanças esperadas nos quadros do Executivo. Os espaços que a troca de tapas entre o ex e o atual presidente ocuparam e ainda ocupam precisam ser tomados por debates sobre os caminhos que o País deve seguir, que o tirem do desemprego, da pobreza, das carências na saúde, na segurança pública e na educação. E, aí, Lula muito pode fazer. E, como bom líder oposicionista, FHC deveria dedicar-se a pelo menos sugerir caminhos, ao invés de cutucar o presidente com vara curta.

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