Nem a eleição aconteceu ainda e já se anuncia que após seis de outubro vai acontecer a maior debandada já vista na história da política brasileira. Candidatos eleitos pelo PFL deverão migrar em massa para o PL. A mudança não implicaria grandes sacrifícios nem problemas maiores de consciência: para continuar próximo do poder, basta a retirada da letra “f”. Isso se Luiz Inácio Lula da Silva ganhar, é claro.
Mesmo que a definição do novo presidente da República seja remetida para um ainda provável segundo turno, o quadro partidário brasileiro deverá sofrer muitas mudanças em função do resultado que for colhido nas urnas. Astutos dirigentes partidários sabem disso e alguns deles já se movimentam para administrar o rombo provável ou estancar as sangrias inevitáveis.
Um deles é o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, ainda metabolizando seu frustrado esforço pela decolagem de uma candidatura própria com Roseana Sarney, colocada fora de combate pela descoberta de um montão de dinheiro vivo no barracão de uma de suas empresas. Segundo estima, o partido deverá eleger a maior bancada de senadores e deputados federais mas, conforme está sendo advertido, no dia seguinte corre o risco de assistir a um esvaziamento da legenda sem precedentes. A migração de correligionários para o PL na esteira do vice de Lula – o empresário (e único senador do partido) José Alencar – já está sendo anunciada aos quatro ventos. Fala-se numa avalanche de, pelo menos, cinqüenta deputados.
Para evitar o desfalque, Bornhausen aposta num único recurso: seu projeto de lei que obriga o parlamentar a permanecer no partido em cuja legenda foi eleito, sob pena de perder o mandato. A proposta já passou no Senado e dorme em alguma gaveta da Câmara, aguardando um improvável consenso. Conforme o projeto, o candidato precisa ter pelo menos quatro anos de filiação para trocar de legenda. Com algum esforço, o atual Congresso poderá transformar o texto em lei. Dependendo do resultado das urnas, o sonho de Bornhausen pode virar pesadelo. Para ter algum sucesso, sua proposta deveria ter sido aprovada antes do jogo definido.
Não falemos aqui em outras possibilidades de adesão como, por exemplo, ao próprio PT. Nem lamentaremos defecções de partidos que já foram celebrados como o maior do Ocidente, como o PMDB. O PFL apenas repete aqui o que já ocorreu alhures. É preciso que o problema seja percebido acima das legendas para fortalecer a idéia de que a reforma política é alguma coisa necessária e urgente para o País.
Coisas como fidelidade partidária, ética e amor a princípios, programas ou promessas ainda estão muito distantes do eleitor, acostumado a votar em candidatos que se dobram ao sabor das conveniências mais imediatas. A adoção do voto distrital, por exemplo, é um bom remédio contra essa “globalização” de campanhas e candidatos que, passado o dia da eleição, não contabilizam nem vínculos nem respeito com o eleitor ludibriado. Que a debandada anunciada gere, pelo menos, a vergonha suficiente para impulsionar a tese da reforma necessária.