O governo Lula, inaugurado em 2003, entrou com o pé esquerdo. Suas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União, mas com nada menos de trinta ressalvas e vinte e duas recomendações. O relatório preparado pelo ministro Guilherme Palmeira mostra que foi um governo comportado, porém de resultados ruins, com uma única exceção: as exportações apresentaram um resultado positivo. Foi uma administração que controlou a inflação e cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem dúvida duas vitórias.

Em compensação, adotou uma política de arrocho salarial que levou a renda média do trabalhador ao seu nível mais baixo da última década. Em 1944, a renda média dos trabalhadores girava em torno de R$ 1.300,00; em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso, caiu para R$ 1.210,00. E no primeiro ano do governo Lula, despencou para somente R$ 910,00. Destaque-se: em renda média. Se olharmos (e conseguirmos enxergar o salário mínimo de R$ 260,00), veremos um trabalhador muito próximo da linha de miséria.

Ao mesmo tempo em que os ganhos dos trabalhadores caiam, as tarifas dos serviços públicos essenciais subiam em média 300%. E a carga fiscal aumentava de 28,6% para 36,7% no período. Tornou-se uma das três maiores do mundo. O governo ganhou mais e o povo, menos.

O relatório do TCU considera o primeiro ano do governo Lula trágico para os trabalhadores e bom para o sistema financeiro. É um quadro perverso do salário corroído com aumento da inflação e da carga tributária, resultando na redução da qualidade de vida dos brasileiros. Enfim, um fracasso no campo social, aquele que a administração da coligação vitoriosa nas urnas prometia atacar e melhorar.

O relatório constata também que o governo aprofundou o desemprego e não cumpriu as metas das áreas de saúde, educação e reforma agrária. Não escaparam problemas como o da segurança pública, que vai de mal a pior. O País tornou-se um dos mais violentos do mundo, com 49 mil assassinatos, chacinas em presídios, guerras de traficantes em favelas e aumento da violência nos centros urbanos e no meio rural. O documento considera a reforma da Previdência longe de resolver as dificuldades do setor. E que o programa Fome Zero corre o risco de tornar-se uma ação assistencialista inútil.

Como as contas de governo são apreciadas pelo TCU primacialmente sob o seu ponto de vista formal e legal, as da administração Lula foram aprovadas. As ressalvas e recomendações, entretanto, servem como crítica e, no caso do exercício de 2003, crítica condenatória. Teria sido um governo que andou torto por linhas certas. Obediente às leis, como a de responsabilidade fiscal, mas incapaz de oferecer ao povo qualidade de vida melhor. Pelo contrário, impôs qualidade de vida cada vez pior.

O cidadão comum, ao vivenciar o dia-a-dia, ficou com a impressão de que o custo de vida esteve sempre subindo. A vida é cara no Brasil. Equívoco! Se comparado a outros países, o custo de vida no nosso País é bem barato. Os salários é que são muitíssimo baixos, ridículos, não permitindo um poder aquisitivo decente para os trabalhadores em geral e até mesmo para a classe média.

Olhando-se o primeiro ano do governo Lula com rigor, concluiremos que foi comportado na obediência à disciplina que a lei lhe exige e reprovado na condução dos problemas econômicos e sociais.

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