De guerra em guerra

Quando a Marina, filha de um amigo meu, foi estudar e jogar tênis por uma universidade norte-americana, teve uma festa de despedida. Todos levaram presentes para a Marina, inclusive eu.

A compra de presentes para jovens Marinas, filhas de amigos nossos, que vão morar nos Estados Unidos, é um desafio a qualquer amigo do pai da Marina que vai morar nos Estados Unidos.

Dei-lhe um caderno de mapas rodoviários daquele país, onde os mapas, sempre de muito boa qualidade, são ferramentas obrigatórias em qualquer automóvel, pastas de executivos, residências e em qualquer lugar.

Escrevi um bilhetinho à Marina aconselhando que em todas as suas viagens – que seriam muitas – consultasse os mapas, se localizasse, observasse os roteiros, aprendesse, com isso, a geografia da grande nação.

Nesse mundo de internet ainda tem lugar para o velho e precioso mapa. Qual a melhor forma de conhecer o Brasil, avaliar as distâncias, localizar regiões e cidades? Qual a melhor forma de formar uma idéia da Terra e suas regiões? Sem dúvida, o mapa. Melhor do que simplesmente olhar em uma tela que se apaga no clique seguinte.

Os conhecimentos e a cultura das pessoas sem uma consistente idéia do espaço e da localização são, em geral, efêmeros, pois estão desconectados da noção de lugar. Estão, enfim, soltos num espaço, cujas dimensões são finitas, mapeadas e conhecidas.

É mais eficiente estimular às crianças e jovens a buscar nos mapas a localização de lugares e eventos, do que tentar fazê-los decorar as capitais dos estados do nordeste ou o nome dos países asiáticos. Tragédias como as ondas gigantes e a guerra no Iraque, servem como exemplo, infelizmente, de boas aulas de geografia.

Além das cartas, o entendimento da escala e exercícios com a régua, calculando distâncias é uma maneira eficaz de fixação da distribuição geográfica. Aliás, escala é outro desses pequenos mistérios matemáticos que parecem tão difíceis de serem entendidos. E como tem mapas por aí onde falta indicação clara da escala!

Se comparado com os Estados Unidos, o Brasil é desprovido de mapas de qualidade, boa cobertura e detalhes.

É, então, permitido se pensar que a cultura geográfica do povo americano é superior à do brasileiro e de outros tantos povos espalhados pelo mundo. Engano! É um paradoxo: mesmo com tanta riqueza de informação, são péssimos conhecedores do mundo e ainda hoje é válida a velha história de que, para muitos americanos, a capital do Brasil é Buenos Aires. Mas, segundo uma autocrítica que abrange todo um contexto de complexo entendimento e visão política do mundo por eles, ?de guerra em guerra, os americanos aprendem geografia?.

Isso seria um retrato da visão introvertida dos americanos, se eles conhecessem muito bem o seu território, já que os bons mapas estão à venda em qualquer posto de gasolina. Mas, parece, que isto também não é uma verdade muito verdadeira.

E a Marina, será que está olhando os mapas que lhe dei de presente?

Não sei. Já a encontrei algumas vezes de férias e não tive coragem de perguntar. É essa mania de, em certas coisas que achamos importantes, fugir da resposta para não ficar triste.

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