Davos precisa ouvir Porto Alegre, afirma Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou hoje uma mensagem sobre sua participação nos fóruns de Porto Alegre e de Davos. “Vou a Davos mostrar que um outro mundo é possível”, dizia o texto, distribuído pelo porta-voz do Palácio do Planalto, André Singer, poucas horas antes de Lula embarcar para Porto Alegre, onde fará hoje sua terceira participação no Fórum Social Mundial.

“Do mesmo modo que é necessário um novo contrato social no Brasil, é preciso um pacto mundial que diminua a distância entre os países ricos e os países pobres”, diz o presidente. “Vou levar a Davos a mensagem de que os países ricos precisam também distribuir a renda do planeta.”

Lula embarcará amanhã à noite para Paris, iniciando uma visita de quatro dias à Europa. Ele participará da programação do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, no sábado e no domingo. Na segunda-feira, o presidente fará uma visita oficial à Alemanha, onde se encontrará com o presidente, Johannes Rau, e jantará com o primeiro-ministro, Gerhard Schroeder. Na terça-feira, Lula estará na França e tem programadas visitas ao presidente, Jacques Chirac, e com o primeiro-ministro, Jean Pierre Raffarin.

Numa atitude inédita, o presidente do Brasil participará dos dois fóruns, o social e o econômico, e procurará construir uma ponte entre os dois debates. Os discursos que proferirá em ambos os eventos serão semelhantes em conteúdo. Em Porto Alegre, porém  ele deverá ser mais enfático ao reafirmar seu compromisso com o social. Em Davos, o presidente deverá pedir condições econômicas mais justas para os países em desenvolvimento. “Davos precisa ouvir Porto Alegre”, diz Lula em sua mensagem.

O governo defende que é possível haver uma “globalização solidária”, ou seja, que os dividendos da globalização possam ser distribuídos de maneira mais igualitária em todo o mundo. “É inadmissível que no início de um novo milênio ainda haja milhões de seres humanos que não tenham sequer o que comer”, afirma Lula.

Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, veterano participante do Fórum de Davos, os temas da distribuição desigual de benefícios da globalização e o agravamento das desigualdades sociais têm sido levantados nas edições do Fórum desde a crise da Ásia, em 1997. No entanto, sempre foram relegados ao segundo plano.

Na avaliação do ministro, o interesse dos próprios organizadores do Fórum de Davos na participação de Lula abrirá uma oportunidade única para colocar essas questões em primeiro plano. Furlan avalia que mesmo os países mais beneficiados com o processo de globalização estão hoje “desconfortáveis” com os resultados, pois é evidente o agravamento dos problemas sociais em regiões como Europa, Estados Unidos e Japão. Para o ministro, Lula chega a Davos na condição de legítimo portador dos pleitos dos países em desenvolvimento. A credencial de Lula não será seu cargo, mas sua própria história pessoal.

Lula afirma na nota que a prioridade de seu governo será o combate à fome. O programa Fome Zero será apresentado à elite econômica mundial em Davos. Segundo um dos organizadores do Fórum, o ex-presidente da Costa Rica José Maria Figueres, uma das metas do evento é incentivar o papel social das empresas. Por isso, Figueres pretende estimular contatos entre Lula e dirigentes de multinacionais, com o objetivo de levantar fundos para o programa Fome Zero.

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